Dando continuidade a meu conto passado na Segunda Guerra...
Depois de conhecer um pouco, ou quase nada, da vida pacata de Erik Shüber e seus pais, vamos ver como é o local onde ele estuda e algumas das pessoas que ele conhece. Não vou me perder muito em detalhes, creio, e planejo continuar com uma narrativa de capítulos curtos e muita vezes cortados propositalmente para que não fiquem nem muito longos pra se ler num blog ou muito curtos a ponto de atrapalhar o entendimento.
Boa leitura. _o/
O Último Despertar de Outono
Capítulo 2

Erik Shüber era um aluno mediano, nem muito bom nem espetacular. Sua única notoriedade era no aprendizado de línguas latinas, das quais o paroco responsável pelo seminário o elogiava sempre. De resto era apenas mais um dos pelo menos cem candidatos a padre que deixariam o mosteiro quando, e se, o governo reconstruísse a escola da região.
Infelizmente todos sabiam que isso não aconteceria. Primeiro por causa da pressão local da própria igreja católica, pois sem uma escola de ciências, os habitantes locais se dedicariam mais a Deus, ou melhor, a igreja católica. Segundo, e provavelmente o principal motivo, os governos pressionavam o governo alemão com o pagamento das dívidas de guerra, o que resultava em desvios da verba destinada a educação para esses pagamentos. Desnecessário dizer que tal descaso causava uma certa revolta entre os alunos, não em todos, mas em uma parte significativa deles, mas em todos os mais velhos. Principalmente os que não gostavam da idéia de poderem vir a ser padres.
O mosteiro era um enorme prédio construído no início da expansão católica no ocidente, erguido por fiéis em pura pedra extraída do leito do Rio Sena e trazida por carroças. O término de sua construção datava do século VII, mas era utilizado muito antes disso. Suas paredes estavam velhas e desgastadas. O terreno em torno do mosteiro era cercado pelos destroços de um muro de também de pedra, destruído acidentalmente por aviões da própria Alemanha, que julgavam que aliados se escondiam naquele lugar. Por um milagre o prédio principal não foi destruído. Nos subterrâneos do mosteiro tinha uma enorme biblioteca a qual nenhum dos alunos tinham acesso.
Além do prédio principal, o mosteiro ainda tinha mais três prédios anexos e uma capela no estilo gótico que dava ao lugar uma aparência tenebrosa que muitos alunos não gostavam e os deixava temerosos com o cair da noite. Devido a altitude da região e características geográficas, uma pesada e densa névoa pairava constantemente na região, independentemente da quantidade de sol que fizesse. Só não tinha névoa quando chovia. Um dos três prédios anexos era onde funcionava a escola de padres, os outros dois eram os alojamentos dos padres e no menor prédio ainda ficavam os estábulos. Toda a área dentro do terreno era pavimentada com blocos enormes de mármore, que de tão mal conservados pareciam mais com pedregulhos vagabundos.
A aula naquele dia foi do mesmo modo como era sempre, digamos, chata. Padres não eram bons professores, e os bons professores estavam em Berlin, Munique ou alguma outra grande cidade dando aulas, não naquele fim de mundo. Mesmo assim, as grandes cidades já eram ruins demais para desejarem se aventurar por essas bandas distantes. E algo não servia de consolo, a família Shüber morava em um lugar tão distante que sequer nome possuía. Era inexistente mesmo nos mapas mais antigos da Alemanha.
Passavam das três horas da tarde e os alunos estavam todos no pátio comendo o lanche da tarde. Era um lanche humilde, apenas um pão com um pouco de manteiga e um copo de leite. Mas se comparado com outros lugares chegava a ser um banquete. Erik era um aluno bem enturmado com o pessoal que estava na igreja só pelo estudo, não para se tornarem padres. Eles sentiam falta de matérias mais "pé no chão" e menos pautadas na Bíblia, e os mais velhos sentiam mais falta ainda de meninas.
- Já ouviu falar do livro de Hitler, Erik? - Perguntava um amigo de escola, mas um pouco mais velho que Erik, com treze anos. - Meus tios em Berlin disseram que ele vai revolucionar nosso país quando sair da cadeia...
- Não sei de nada. Meu pai não me deixa escutar nem o rádio que ele montou com peças abandonadas da guerra, diz que sou muito novo pra política, ele e mamãe... - Respondeu Erik,
- Scheiße! Seu pai é muito antigo... Por acaso são ortodoxos?
- Não, Friedrich, não, nunca fomos... Ele apenas não quer que eu me misture com esses problemas. Acho que ele está começando a gostar da idéia de me ver padre.
- Já pensou em fugir para a Berlin? Munique?
- Nunca... Tenho apenas dez anos...
- Pense então.
E eles retornaram a aula. Ao contrário de outros colégios, a divisão de "séries" naquele mosteiro era fundamentada não pela idade, mas pelo nível de conhecimento. Quanto mais próxima de aceitar seu destino como padre, mais avançada era sua turma e maiores os privilégios. Crianças das mais diferentes idades eram misturadas, havendo em uma mesma turma tanto jovens de dez anos de idade quanto púberes de dezessete. De vez em quando causava problemas aos jovens, mas nenhum aos padres. Era saudável vê-los brigando entre si para obterem vantagens dentro do mosteiro e em troca apenas aceitarem Deus em seus pequenos corações.
Erik estava na mesma turma há dois anos. Era uma das primeiras turmas de aprendizado, onde a única vantagem que possuía era o direito de comer um pedaço de pão com manteiga durante o intervalo, enquanto as turmas inferiores somente podiam beber leite. Outra vantagem era que nos afazeres do mosteiro não era obrigado a limpar o estábulo, apenas o banheiro dos padres e monges. Fazia grande diferença, apesar do cheiro ser igual.
Friedrich era seu companheiro de sala, eram praticamente unha e carne. Friedrich comentava que sentia por Erik o mesmo carinho que nutria por seu irmão mais velho, que infelizmente falecera durante a Primeira Guerra, atropelado por um tanque tentando proteger as fazendas do pai. Friedrich odiava profundamente qualquer coisa relativa a guerra, principalmente quando os mais velhos reclamavam que a Alemanha nunca deveria ter ido contra os ingleses. O jovem adolescente odiava profundamente esse tipo de conversa e sempre se afastava xingando as pessoas. A família dele já tentara diversas vezes dissuadi-lo de seus ideais, mas era como discutir com uma rocha.
Era até estranho que os dois fossem tão amigos, dado que os pais de Erik eram o tipo de pessoa que Friedrich mais odiava, "Untergebener von Scheiße", como dizia em alto e bom tom. Mas no âmago de Erik já existia a mesma revolta, e ele concordava com o que Friedrich dizia, mas sem nunca demonstrar isso a seus pais. Tinha noção da idade que possuía e que apesar de ter amadurecido rápido pela pressão do pós guerra, ainda era apenas um pirralho aos olhos de todos os mais velhos. E apenas um sabia dos verdadeiros pensamentos dos outros. Tinham medo que a verdade chocasse os mais velhos e lhes causassem problemas.
Quando a aula terminou seus respectivos pais vieram e os apanharam, apesar da insistência diária dos monges e padres em pedir a todos que deixassem os filhos no internato. Mas o verdadeiro objetivo desses pais era extraírem conhecimento dos padres para seus filhos, não entregarem seus filhos a igreja.
E assim a vida continuou...
Depois de conhecer um pouco, ou quase nada, da vida pacata de Erik Shüber e seus pais, vamos ver como é o local onde ele estuda e algumas das pessoas que ele conhece. Não vou me perder muito em detalhes, creio, e planejo continuar com uma narrativa de capítulos curtos e muita vezes cortados propositalmente para que não fiquem nem muito longos pra se ler num blog ou muito curtos a ponto de atrapalhar o entendimento.
Boa leitura. _o/
Capítulo 2

Erik Shüber era um aluno mediano, nem muito bom nem espetacular. Sua única notoriedade era no aprendizado de línguas latinas, das quais o paroco responsável pelo seminário o elogiava sempre. De resto era apenas mais um dos pelo menos cem candidatos a padre que deixariam o mosteiro quando, e se, o governo reconstruísse a escola da região.
Infelizmente todos sabiam que isso não aconteceria. Primeiro por causa da pressão local da própria igreja católica, pois sem uma escola de ciências, os habitantes locais se dedicariam mais a Deus, ou melhor, a igreja católica. Segundo, e provavelmente o principal motivo, os governos pressionavam o governo alemão com o pagamento das dívidas de guerra, o que resultava em desvios da verba destinada a educação para esses pagamentos. Desnecessário dizer que tal descaso causava uma certa revolta entre os alunos, não em todos, mas em uma parte significativa deles, mas em todos os mais velhos. Principalmente os que não gostavam da idéia de poderem vir a ser padres.
O mosteiro era um enorme prédio construído no início da expansão católica no ocidente, erguido por fiéis em pura pedra extraída do leito do Rio Sena e trazida por carroças. O término de sua construção datava do século VII, mas era utilizado muito antes disso. Suas paredes estavam velhas e desgastadas. O terreno em torno do mosteiro era cercado pelos destroços de um muro de também de pedra, destruído acidentalmente por aviões da própria Alemanha, que julgavam que aliados se escondiam naquele lugar. Por um milagre o prédio principal não foi destruído. Nos subterrâneos do mosteiro tinha uma enorme biblioteca a qual nenhum dos alunos tinham acesso.
Além do prédio principal, o mosteiro ainda tinha mais três prédios anexos e uma capela no estilo gótico que dava ao lugar uma aparência tenebrosa que muitos alunos não gostavam e os deixava temerosos com o cair da noite. Devido a altitude da região e características geográficas, uma pesada e densa névoa pairava constantemente na região, independentemente da quantidade de sol que fizesse. Só não tinha névoa quando chovia. Um dos três prédios anexos era onde funcionava a escola de padres, os outros dois eram os alojamentos dos padres e no menor prédio ainda ficavam os estábulos. Toda a área dentro do terreno era pavimentada com blocos enormes de mármore, que de tão mal conservados pareciam mais com pedregulhos vagabundos.
A aula naquele dia foi do mesmo modo como era sempre, digamos, chata. Padres não eram bons professores, e os bons professores estavam em Berlin, Munique ou alguma outra grande cidade dando aulas, não naquele fim de mundo. Mesmo assim, as grandes cidades já eram ruins demais para desejarem se aventurar por essas bandas distantes. E algo não servia de consolo, a família Shüber morava em um lugar tão distante que sequer nome possuía. Era inexistente mesmo nos mapas mais antigos da Alemanha.
Passavam das três horas da tarde e os alunos estavam todos no pátio comendo o lanche da tarde. Era um lanche humilde, apenas um pão com um pouco de manteiga e um copo de leite. Mas se comparado com outros lugares chegava a ser um banquete. Erik era um aluno bem enturmado com o pessoal que estava na igreja só pelo estudo, não para se tornarem padres. Eles sentiam falta de matérias mais "pé no chão" e menos pautadas na Bíblia, e os mais velhos sentiam mais falta ainda de meninas.
- Já ouviu falar do livro de Hitler, Erik? - Perguntava um amigo de escola, mas um pouco mais velho que Erik, com treze anos. - Meus tios em Berlin disseram que ele vai revolucionar nosso país quando sair da cadeia...
- Não sei de nada. Meu pai não me deixa escutar nem o rádio que ele montou com peças abandonadas da guerra, diz que sou muito novo pra política, ele e mamãe... - Respondeu Erik,
- Scheiße! Seu pai é muito antigo... Por acaso são ortodoxos?
- Não, Friedrich, não, nunca fomos... Ele apenas não quer que eu me misture com esses problemas. Acho que ele está começando a gostar da idéia de me ver padre.
- Já pensou em fugir para a Berlin? Munique?
- Nunca... Tenho apenas dez anos...
- Pense então.
E eles retornaram a aula. Ao contrário de outros colégios, a divisão de "séries" naquele mosteiro era fundamentada não pela idade, mas pelo nível de conhecimento. Quanto mais próxima de aceitar seu destino como padre, mais avançada era sua turma e maiores os privilégios. Crianças das mais diferentes idades eram misturadas, havendo em uma mesma turma tanto jovens de dez anos de idade quanto púberes de dezessete. De vez em quando causava problemas aos jovens, mas nenhum aos padres. Era saudável vê-los brigando entre si para obterem vantagens dentro do mosteiro e em troca apenas aceitarem Deus em seus pequenos corações.
Erik estava na mesma turma há dois anos. Era uma das primeiras turmas de aprendizado, onde a única vantagem que possuía era o direito de comer um pedaço de pão com manteiga durante o intervalo, enquanto as turmas inferiores somente podiam beber leite. Outra vantagem era que nos afazeres do mosteiro não era obrigado a limpar o estábulo, apenas o banheiro dos padres e monges. Fazia grande diferença, apesar do cheiro ser igual.
Friedrich era seu companheiro de sala, eram praticamente unha e carne. Friedrich comentava que sentia por Erik o mesmo carinho que nutria por seu irmão mais velho, que infelizmente falecera durante a Primeira Guerra, atropelado por um tanque tentando proteger as fazendas do pai. Friedrich odiava profundamente qualquer coisa relativa a guerra, principalmente quando os mais velhos reclamavam que a Alemanha nunca deveria ter ido contra os ingleses. O jovem adolescente odiava profundamente esse tipo de conversa e sempre se afastava xingando as pessoas. A família dele já tentara diversas vezes dissuadi-lo de seus ideais, mas era como discutir com uma rocha.
Era até estranho que os dois fossem tão amigos, dado que os pais de Erik eram o tipo de pessoa que Friedrich mais odiava, "Untergebener von Scheiße", como dizia em alto e bom tom. Mas no âmago de Erik já existia a mesma revolta, e ele concordava com o que Friedrich dizia, mas sem nunca demonstrar isso a seus pais. Tinha noção da idade que possuía e que apesar de ter amadurecido rápido pela pressão do pós guerra, ainda era apenas um pirralho aos olhos de todos os mais velhos. E apenas um sabia dos verdadeiros pensamentos dos outros. Tinham medo que a verdade chocasse os mais velhos e lhes causassem problemas.
Quando a aula terminou seus respectivos pais vieram e os apanharam, apesar da insistência diária dos monges e padres em pedir a todos que deixassem os filhos no internato. Mas o verdadeiro objetivo desses pais era extraírem conhecimento dos padres para seus filhos, não entregarem seus filhos a igreja.
E assim a vida continuou...
ótimo blog...cara..
ResponderExcluirparabéns!!!!
Excelente sempre
ResponderExcluirsucesso pro pra gente :D:D:DD
Muito legal o texto.
ResponderExcluirGostamos de coisas parecidas, vou virar fregues desse blog.
Parabéns
ta afim d trocar links??
ResponderExcluirfiz 2 blogs novos e estou divulgando e procurando parceiros ate dia 13 de julho
www.bloggandia.blogspot.com
e
www.historiasdoorkut.blogspot.com
Er... Já trocamos links?
ResponderExcluirAo menos sequer leu o título antes de copiar e colar spam?
Creio que não... ¬¬'
Olá,
ResponderExcluirprimeiramente, obrigado pelo comentário no meu blog ;D
Pois é... ;D
Gostei do texto, interessante.
Hoje em dia as coisas tão mais ou menos assim, é claro que os tempos mudam ;D
Belo blog.
Abraços.
Adoreei o seu blog^^
ResponderExcluirDepois dá uma passadinha no meu e diz o que acha okay?
http://desabafos-de-uma-garota.zip.net
beijos
Gostei muito do Blog e do texto. Tudo o que é relacionado à Segunda Guerra me interessa. O texto está bom, mas quando eu escrevo narrativas, prefiro que a personalidade das personagens apareçam pelas atitudes, não pelo que falam ou pelo que o narrador fala. Mas preferencia cada um tem a sua.
ResponderExcluirAproveito para divulgar o meu blog:
Como eu sou "só um pouco pretensioso", tento explicar tudo o que Freud não explicou: política, economia, artes, sociedade e o que me der na teia. É um blog novo, mas vale a pena conferir.
http://freudnaoexplica.blogspot.com
Obrigado.
nossa muito bom texto, falar de igreja e pos guerra me fascina, adorei.
ResponderExcluirJá pensou em publicar?? Livro mesmo com contos, crônicas.
ResponderExcluirSua narrativa é envolvente e desperta curiosidade. Nos remete a uma época remota e nos faz sentir personagens da história. Sua pesquisa histórica tbm está ótima.
Continue, aguardamos os próximos capítulos.
Abraços
O conto está indo muito bem, o único problema deste último capítulo, é que ele é curto de mais!
ResponderExcluirQue venham os próximos!
pus cósmico????
ResponderExcluirque humor em meu camaradaaa...
opss
ResponderExcluirhttp://rrodrigosilva.blogspot.com
Olá. Estou aqui para agradecer sua visita e dizer que gostei muito do seu blog.
ResponderExcluirParabéns!
Ae cara, fazendo um rápido comentário: Adorei a ousadia em tratar da já corriqueira pizza no nosso governo....visitei e achei interessante (não mais doq isso) aquele site de quadrinhos........ apesar de q não naveguei, to falando da idéia q vc apresentou.........e o seu texto ficou bem legal. Adoro coisas relacionadas às Grandes Guerras.
ResponderExcluirE cara, concordo em parte com oq vc disse. Tbm acho muito ridiculo eles colocarem Hogwarts (é assim q escreve?), com tudo oq acontece, parecendo duas semanas, sendo q o filme se passa no decorrer de um ano. Pow, mas este 5º filme ta foda.....tirando o roteiro, q perdoo, o filme ficou bem legal.
E me diga brother. Esta parada de Google Adsense, vale mesmo a pena?? To pensando em colocar no meu, mas num sei se vale a pena. Bom, é isso. Fica o abraço!!!!
Parabéns!!!!
ResponderExcluirO blog está ótimo!!!!
www.nonato.wordpress.com
Olá!Aceita trocar link com www.pereiraaps.com
ResponderExcluirSe positivo favor enviar e-mail para contato@pereiraaps.com
Site do Pereira
Obrigado
Pereira