O samba é uma das danças mais sensuais e envolventes que
existem, a mulher movimenta todo seu corpo de forma sensual, pernas e quadris
formam um conjunto mortal de sedução. O papel do homem pode ser considerado
nobre, ele corteja a dama, como um cavalheiro. Um bom dançarino é rápido e
gracioso ao mesmo tempo, seus movimentos são precisos e hipnóticos, fluidos.
Rogério era um habilidoso dançarino, sucesso onde ia, sempre
era o mais requisitado pelas mulheres, mais por sua habilidade a dança do que
por sua beleza. Não que fosse feio, era um mulato bem apessoado, alto, boa
postura, elegante e sempre cortês, principalmente com as mulheres, com elas era
um cavalheiro perfeito.
Quase todos os finais de semana ia pra Lapa, reduto da
boemia carioca. Lá ia a gafieira, depois ia para a rua, no meio do povo, onde
gostava de estar, e dava um show para quem quisesse ver, um grupo de amigos que
tocava samba na rua sempre escolhia a melodia perfeita para suas performances
sempre seguidas de muitos aplausos. Nunca demorava mais do que alguns poucos
minutos para uma multidão estar a volta deles, ou para curtir o samba de seus
amigos, ou para apreciar sua habilidade na dança, sempre convidando alguma
mulher da plateia para dançar com ele, a quem sempre presenteava com uma rosa e
um beijo na mão, às vezes até desafiava algum outro homem, sempre saia
vitorioso do “duelo”, mas nunca os deixava ir sem um cumprimento e um
agradecimento sincero reconhecendo a habilidade do outro.
Quando não estava na Lapa bastava procurá-lo em algum
outro reduto do samba, Zona Portuária, ou alguma quadra de escola de samba, até
mesmo as adversárias de sua escola do coração o convidavam, o que causava certo
desconforto em alguns dançarinos, mas a maioria sabia do real motivo do convite
e preferiam não se intrometer.
Não ganhava a vida apenas como dançarino, por mais
habilidoso que fosse, Rogério tinha a dança como um passatempo, uma diversão,
dava aulas durante a semana quando não tinha a obrigação com sua escola de samba,
porém Rogério tinha outras fontes de renda. Ele também era um ginasta muito
competente e um exímio praticante de capoeira. Com sua habilidade e
desenvoltura na dança, na ginástica e na capoeira, Rogério conseguia se
sustentar e levar uma boa vida, trabalhava quando e onde queria, da forma que
queria.
A dança era sua principal motivação, sua válvula de escape,
sua diversão. Quando dança esquecia do mundo, gostava da sensação que a dança
lhe proporcionava, se sentia sempre mais leve, mas aliviado. A única coisa que
não gostava era quando via alguém caindo de bêbado, ou por algum outro motivo,
nos locais onde estava, o que acontecia com certa freqüência, afinal, locais
muito cheios sempre tinha alguém se excedia na bebida ou em drogas. Volta e
meia alguém começava alguma confusão, por qualquer motivo que fosse, seja por
bebida ou drogas, mas as principais queixas eram por terem assediado a mulher
de alguém, sempre que isso acontecia Rogério saia do local o mais rápido que
podia, mas sem fazer alarde, sempre com calma, não gostava de se afobar,
muito menos de confusões, quando a menor confusão tinha início ele se distanciava,
acabava com o clima, pensava.
Algumas vezes durante essas confusões presenciou mortes, um
tiro, alguém esfaqueado... Pouco importava, a tragédia estava feita, uma pessoa
estaria morte e ele queria estar longe dali, longe rápido o suficiente para
levantar o mínimo de suspeita, afinal, na maioria das vezes ele era o motivo
das mortes.
Se valendo de sua habilidade na dança e na acrobacia Rogério
tinha se tornado um matador profissional e acima de qualquer suspeita. Não era
um assassino em série, muito menos escolhia suas vítimas a esmo, somente matava
mediante contrato e por um bom preço pré estabelecido com seus clientes.
Recolhia o máximo de informação possível sobre seu alvo e traçava seu plano, em
geral eram desafetos de contraventores ou pessoas com alto poder aquisitivo que
o contratavam.
O serviço era executado sempre da mesma forma, ia até um
local que sua pretensa vítima costumava frequüentar, se aproximava dela, mas sem
levantar suspeita, não fazia contato direto, nunca, sempre pedia para algum cúmplice,
sempre uma bela mulata, mas nunca a mesma, dar um jeito de embebedar a pessoa o
máximo que conseguisse, ou pelo menos que a deixasse “mais alegre”, isso já lhe
era suficiente.
A música alta, a batida dos tambores e seus movimentos
rápidos e precisos ajudavam a deixar a pessoa mais tonta e suscetível a seu
ataque. Rodopios e saltos extremamente rápidos e a pouca luz proporcionada
pelos postes encobriam suas armas mortais. Uma pequena faca oculta pelo longo
lenço usado em suas performances, ou até mesmo agulhas, longas e fortes o
suficiente para penetrar na carne quando bem arremessadas. Uma vez esfaqueara
uma única vítima mais de vinte vezes pelas costas em questão de segundos,
enquanto fazia seus giros, a lâmina oculta pelo lenço vermelho nunca era
notada, quando a vítima caia e as pessoas notavam, era tarde demais.
Sempre agia da mesma forma, em público, com o máximo de
testemunhas possível, era seu álibi perfeito, pois quem suspeitaria do
habilidoso dançarino que estava ali apenas para dar seu show e entreter o
público?
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