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O encontro de dois mundos.


No estúdio estavam os dois. Face a face, corpo a corpo.

De um lado, no auge de seus vinte anos, com apenas dois dentes na boca e as roupas velhas doadas por seu senhor feudal. Ele era a Idade Média. Ao seu lado estava sua esposa de quinze anos e na segunda tentativa de gerar um filho, já que o primeiro morrera de tifo. Ele observava com curiosidade o sofá e a textura do tecido, melhor que as acomodações de palha cobertas com couro da casa onde morava.

Do outro lado, no âmago de sua forma física um executivo do século XXI, o representante da Idade Contemporânea. Ele vestia um belo terno Giovani, acessava freneticamente seus e-mails corporativos de seu blackbarry e ao seu lado esta sua esposa, com quarenta anos e sem filhos.

- Boa tarde senhores. - Diz o cientista, que inventou a máquina que permitia tal situação.
- Tarde. - Responde a Idade Média.
- Boa tarde, meu senhor. - Diz a Idade Contemporânea.
- Hoje vamos apenas conversar, saber o que cada um pensa. Por quem podemos começar?
- Deixe o caipira começar. - Disse a Idade Contemporânea.
- Bem, vamos então...
- Eu sou a idade média. - Explica. - Vivemos muito bem em minha época, apesar de meu primeiro filho ter morrido de tifo...
- E o segundo morrerá de que? Peste bubônica? - Provoca a Idade Contemporânea, segurando o riso.
- Pelo menos meus porcos não espirram e me matam de medo.
- Medo? Com dinheiro eu compro o remédio.
- Eu não preciso de remédio, a fé funciona e é de graça. - Comemora a Idade Média, apalpando o bolso. - Aliás, nem de dinheiro preciso.
- Tenho carro e você não.
- Tenho cavalo. - Responde de imediato. - E não pago IPVA por ele.
- Temos saúde, chegamos até os cem anos com facilidade. - Gaba-se a Idade Contemporânea.
- Ah sim, apoiados em muletas e bancando filhos sangue-sugas.
- Vocês nem chegam aos quarenta.
- Pelo menos não temos crise de meia idade.
- Vocês pagam tributo ao seu senhor, que em geral é abusivo.
- Mas é apenas um tributo. - Diz a Idade Média, dessa vez se gabando. - Você tem mais siglas de impostos do que letras no seu nome, e para piorar, falam que é para saúde, segurança e educação. Não recebem nenhuma das três. E mais, se eu desconfiar de meu senhor posso simplesmente desafiá-lo para uma luta homem a homem e se vencer minha vontade prevalece porque há a lei da espada.
- Eu posso entrar na justiça! - Berra a Idade Contemporânea. - Temos advogados e leis claras!
- E esperar por anos para descobrir que nada mudou... Aliás, que você está errado e vai ter que pagar por estar certo.
- Como se fosse fácil brigar com seu senhor.
- Mais fácil que saber que é liderado por um crustáceo com um tentáculo a menos e que antes dele foi liderado por uma múmia e que nenhum deles jamais se importou com quem o escolheu. Essa tal de democracia. Pelo menos na idade média sabemos exatamente quem são nossos vilões.
- Como se seus reis e senhores fossem melhores que nossos políticos, com suas visões distorcidas da realidade e o clero que os subjuga e distorce a verdade.
- Quanto a isso me vieram siglas em resposta: IURD e Globo. - Responde a Idade Média. - Em nosso tempo apenas temos a Inquisição... Ah sim, concordo, políticos são um mal, digo mais.
- Você é banguela! - Provoca a Idade Contemporânea.
- Você está gordo de tanto fast food! - Responde de imediato a Idade Média. - Pessoas que nem Sarney seriam decapitadas ou tiradas por poder!
- Mentira, outro igual assumiria o poder. - Discorda a Idade Contemporânea.
- Ao menos se daria ao trabalho de fingir ser nobre. - Desdenha mais uma vez a Idade Média, cuspindo no sapato da Idade Contemporânea, que se revolta.
- Isso é um legítimo Mr. Cat! Tem idéia do preço! - Seu animal!
- Feio!
- Cara de mamão!
- Vou te mostrar quem é...

O cientista separa as duas idades antes que briguem como crianças imaturas.

Apesar de serem muito distantes, ainda assim eram muito próximas e parecidas demais.