- Me dá mais uma da boa! - Berra Abreu, com o copo vazio de cerveja.
Sentado em uma mesa do Bar do Zeca, um boteco local, o médico e legista Abreu não parece se incomodar muito em esperar dias na Ilha de Paquetá pelos resultados de testes de amostras retiradas das vítimas do Parque Darke. Ele está completamente embriagado e aos beijos com uma mulher que aparenta idade para ser sua mãe (sendo que ele tem quase cinqüenta anos).
Naquele momento em específico ele faz aquilo que sabe fazer melhor: torrar dinheiro público. Não que Abreu seja corrupto, mas ele conta nos dedos quantos não se aproveitaram de esvaziar cofres públicos em diligências optando em comer em locais baratos ao invés de só usufruir do bom e do melhor. "Considerando nossas condições de trabalho, é nada mais que justo", respondia quando questionado sobre suas práticas onerosas dando a entender que o estado precário do IML era justificativa para seus atos.
Quando chega quase uma hora da manhã Zeca, o dono do bar, de forma educada convida todos a se retirarem. Abreu, ainda abraçado da mulher, se levanta e pede apenas mais uma cerveja pra viagem, sendo atendido prontamente. Zeca preferia se livrar do bêbado do que manter um casco de vidro - pelo qual cobrou. Abreu retoma caminhada com sua parceira e caminham até a Praia da Guarda.
Excitados pela bebedeira os dois se sentam um banco a beira da praia e começam carícias mais ardentes. Beijos e gemidos se manifestam e um seio já está a mostra quando escutam o som baixo da viatura de polícia. Imediatamente os dois se recompõe e se levantam ao mesmo tempo que a polícia passa e os ilumina com a lanterna. Um dos policiais reconhece o médico.
- Vai São Jorge! - Berra o policial, gargalhando com o amigo.
- Vamos para algum lugar mais íntimo? - Propõe a mulher, lambendo a orelha de Abreu.
- O que sugere? - Pergunta, tomando em seguida um gole de cerveja.
- Vamos pro Darke? - Fala a mulher, apontando para o Parque, completamente escurecido.
- Mas...
- To vendo que vai brochar, não é?
- Nem pensar! Os únicos mortos que Abreu manipula são os do IML! Eu sou muito vivo! Vamos para lá... Você nunca vai se esquecer dessa noite!
O casal cambaleia pela noite em direção ao Darke. Uma caminhada que levaria apenas cinco minutos de onde estavam leva quase quinze por seus estados físicos e mentais. No caminho Abreu propõe que se agarrem na praia, mas a rampeira insiste em fazerem tudo no parque. "Lá é mais gostoso porque é proibido.", provoca enquanto coloca a mão dentro da calça do legista.
Com rapidez e experiência a moça pula o muro seguida por Abreu. Caminham pela área livre do parque até que chegam ao local onde o corpo de Isabela foi encontrado. Um pouco de náusea tomou Abreu enquanto continuavam e avançavam rumo a trilha que levava ao mirante. A trilha foi percorrida em menos de sete minutos, entre tropeços e gargalhadas bêbadas. Mal chegaram ao Mirante a blusa da rampeira foi tirada e Abreu já passeava entre seus seios.
Foi um sexo selvagem e sem muita preocupação. Estavam completamente sós e as únicas testemunhas do ato eram animais e o céu estrelado daquela noite. De repente Abreu tem a impressão de escutar um galho se partindo. Retira a boca do ventre da mulher e olha para os lados.
- Você escutou? - Pergunta o médico.
- Escutei o que? - Responde, ofegante de prazer.
- Um galho se partindo.
- Está maluco doutor? Vamos continuar!
Abreu retoma os afazeres e novamente escuta o som, dessa vez mais perto. Se levanta e procura por alguma arma entre suas coisas. "Merda! Esqueci o 38 no hotel!", pensa enquanto sua parceira se levante contrariada. "Tá chapado?", pergunta revoltada enquanto veste a calcinha.
- Cala a boca e escuta! - Bronqueia Abreu, agarrando o braço dela e olhando nos olhos dela. - Escuta!
Nenhum som. Nada. A mulher se afasta de Abreu e veste o resto da roupa. "Você é um filho da puta! E maluco! Tinha que ser doutor de defunto mesmo...", reclama a moça quando finalmente escuta o terceiro galho se partir.
- Abreu?
- Agora escutou sua puta! - Fala o médico, armando-se com a garrafa vazia de cerveja. - Eu disse que esse lugar era ruim, mas você me escutou? Claro que não. Me agarrou pelo pau e me trouxe aqui. Feliz agora?
- O que é?
- Sei lá o que é, mas está nos observando... Vamos sair daqui com cuidado, sem correr.
Abreu começa a caminhar, seguido pela mulher. Atento e com o sangue frio de quem lida com o que há de mais bizarro na raça humana há anos ele parece tranquilo. A garrafa lhe dá uma falsa segurança, que reforça pegando no chão um galho grosso de alguma árvore. A rampeira o acompanha e quase o abraça enquanto descem a trilha com cuidado. Um novo som se escuta próximo deles e uma fruta atinge a mulher, que desesperada desvencilha-se de Abreu e corre pela trilha, desaparecendo aos bwerros.
- Merda! - Reclama o legista, ficando só.
O legista caminha atento, em parte nervoso pelo abandono e no fundo mais calmo por não ter nenhum empecilho ao lado. Ele não é incomodado por toda a descida. Apenas se dá conta que está completamente nu quando chega no fim da trilha. "Merda! No susto deixei as roupas lá em cima!", pensa enquanto decide se retorna ou não para buscar ao menos as calças.
- Abreu! - Berra uma voz conhecida se aproximando.
- Fred! - Reconhece Abreu, escondendo as partes íntimas com a garrafa semi-transparente, o que não é exatamente a melhor solução.
- O que houve com você? - Pergunta o policial.
- Estava comendo e escutei um barulho, fui conferir.
- Comendo pelado?
- O que se come pelado, Fred? E você, também veio comer?
- Estava procurando evidências com o Almeida. Escutei um eco estranho vindo do Mirante e vim para cá, o Almeida ficou do outro lado, ele só precisa de uma ligação minha pra vir.
- Aquela vadia berrava muito alto, parecia uma vaca no cio... - Responde o médico. - Eu estava comendo lá em cima. Pode me acompanhar até lá? Preciso pegar minhas coisas.
O médico segue o caminho de volta acompanhado dessa vez de Fred. A presença do amigo transmite um pouco de segurança. Caminham silenciosos, até porque Abreu está completamente envergonhado por sua situação ridícula. Ele chega até o Mirante e suas roupas continuam no mesmo local, intocadas. Veste a cueca e as calças e se sente menos mal, Fred o tempo todo observa atentamente.
- Pelo visto foi uma senhora noite. - Comenta Fred, sentindo o cheiro forte de cerveja e do alcóol.
- Era uma boa mulher.
- Pena que não a vi.
- Como assim? Ela saiu correndo na minha frente... Você com certeza a viu correndo pelo parque até a saída.
- Não vi mulher alguma sair da trilha.
Por um instante Abreu gelou por dentro.
Continua...
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O Parque Sombrio - 4
Dois corpos.
Fred e Almeida observavam com espanto o segundo corpo no necrotério improvisado no hospital de Paquetá. Era um jovem de pele clara, cabelos negros lisos aparentando dezesseis anos. Nele tinha as mesmas marcas de hematomas da primeira vítima. O legista Abreu observa os amigos com o costume mórbido de quem há anos faz esse serviço, enquanto em paralelo termina com seu sanduíche.
- Porque não nos falou dele antes? - Pergunta Almeida a Dr. Abreu.
- Porque foi encontrado quando estavam na barca. - Responde. - Em uma hora e vinte muita coisa acontece.
- Percebo. - Fala Fred. - Qual o nome dele?
- Marcelo. - Responde Almeida, com lágrimas nos olhos. - Ele é meu amigo de infância.
- Deus! - Brada Fred, assombrado.
- Eu vou pegar esse filho da puta, parceiro... Vou lhe arrancar os bagos pela boca, eu prometo.
Almeida afasta-se do corpo de Marcelo e apoia-se em uma pilastra. Fred o ampara, preocupado com o envolvimento de Almeida no caso. "Espero que consiga manter as estribeiras", pensa enquanto observa Dr. Abreu cobrir novamente o corpo.
- Só existe uma diferença entre esse corpo e o outro. - Diz Abreu.
- Qual? - Pergunta Fred.
- Ele não tem a marca nas costas. E pelo que vi, Marcelo sofreu violência sexual...
- Um assassino gay? - Pergunta Fred.
- Não tenho certeza, encontrei marcas de... bem... ferrugem. - Fala o médico, sem jeito de como falar do estado do amigo de Almeida. - Provavelmente o dano foi causado por um objeto irregular e enferrujado, um cano velho ou sei lá qual objeto, pois não tinha nenhum no local onde o encontramos.
- E onde o encontraram?
- No Darke, como disse há pouco, na trilha para o outro mirante. Estou esperando alguns testes chegarem do continente para confirmar algumas suspeitas minhas.
- Quais seriam? - Questiona Almeida, quase recuperado.
- Que temos dois assassinos, e não apenas um.
- Uma ilhota de merda e dois assassinos? Deve ser coincidência, Abreu. Não tem como ser...
- Fica calmo, ainda é apenas uma suspeita. Só saberei quando os resultados chegarem, até lá vou curtir uns dias em Paquetá às custas do estado.
- Curtir? Você vai é se afogar em cachaça...
- Isso também!
Sem mais o que conversarem com Abreu eles saem da sala. Almeida e Fred fazem anotações em seus blocos e decidem juntos ir até o Darke de Mattos procurarem pistas. Almeida nesse momento se tornava um trunfo no caso, por ser antigo morador, e com a morte de um amigo de infância o crime deixara de ser apenas mais um caso e se tornara pessoal.
O parque já estava fechado desde as dezessete horas, e chegando as dezoito horas não conseguiriam nem encontrar um funcionário no portão. "Não se preocupe, é só pular o muro.", comenta Almeida, enquanto caminha pelo entorno da entrada e encontra rapidamente uma parte do muro possível de pular. Fred reluta um pouco, mas acaba cedendo a curiosidade. Em poucos minutos os dois policiais invadem o parque e caminham com calma pela escuridão que a cada minuto fica mais forte.
- Isso vai dar merda. - Sussurra Fred.
- Porque? - Questiona Almeida. - Faço isso desde pirralho, e pelo menos metade dessa ilha foi fabricada aqui. O Darke a noite é um verdadeiro motel!
- Mas nós somos policiais! Deveríamos ao menos ter pedido autorização ao administrador daqui.
- Você o viu?
- Não.
- Nem eu, então vamos até a segunda trilha logo, procuramos pelo tal cano de ferro e vamos embora daqui. Trouxe lanterna?
- Só celular.
- Eu trouxe, então não atrapalhe, ok? - Almeida saca uma pequena lanterna de bolso e ilumina o rosto de forma sinistra. - Eu sou o assassino do Darke! Buuuuuuu!
- Qual a sua idade Almeida? Dez anos?
- Em cada perna. - Responde Almeida. - Fred, já te falei que você é muito babaca?
- Hoje ainda não.
Os policiais chegam sem serem pertubados rapidamente ao início da trilha do segundo mirante. Menos fanfarrão Almeida passa a utilizar a lanterna do jeito tradicional e segue a trilha deixada pelos policiais militares quando recolheram o corpo. Depois de alguns metros subindo chegam ao mirante e encontram a marca de giz no chão feita pelos primeiros peritos.
- Consegue ver aqui no escuro? - Pergunta Almeida, sem saber se o ângulo da lanterna é bom para o amigo.
- Consigo, além da lanterna a noite está clara por causa da lua.
- É verdade... - Balbucia Almeida, observando a lua cheia sem dar muita importância. - Fred, onde você colocaria uma arma de crime?
- Porque me pergunta isso? Eu não sou o assassino...
- Mas você tem TOC, e loucura por loucura serve a sua...
Depois de quase uma hora de procura minuciosa nada é encontrado. Nenhuma pista foi deixada pelo assassino, nenhum galho quebrado significativo e nem mesmo uma pegada existe que não as das botas policiais. "A pior merda que tem aqui nesse país é ser investigador! Proteger a cena do crime e nada são sinônimos...", reclama Fred enquanto sobe o mirante e observa o parque do alto.
- O que seus olhos policiais podem ver?
- Eu vejo... nada!
- Eu...
A frase de Almeida é interrompida pelo eco de uma gargalha sinistra.
Os dois não estão sozinhos.
Continua...
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O Parque Sombrio - 2
O sol ardia as quinze horas da tarde daquele dia. Como sempre o trânsito do centro do Rio de Janeiro estava caótico e buzinas soavam famintas aumentando ainda mais a sensação de calor em todos os motoristas infelizes que tinham que passar por aquela região. Não haviam pessoas satisfeitas, não havia o sorriso lendário do rosto carioca. Apenas um ou outro conseguia sorrir, mas esses com certeza não eram motoristas...
- Odeio essa cidade. - Comenta Almeida, enquanto dirige seu santana preto de placa branca pela Av. 1° de Março.
- Mas adora as putas. - Responde Frederico, ou apenas Fred, seu companheiro.
- O que tem as putas a ver com isso? - Brada o homem.
- Nada, mas achei engraçado falar isso... Você tem menos de vinte e três anos e reclama como uma velha rabugenta! Já pensou o que vai fazer quando chegar aos trinta?
- Com certeza não vou dirigir aqui nessa merda de cidade...
- Sabe onde você deveria morar?
- Onde?
- Em Paquetá!
- Paquetá é meu ovo esquerdo Fred! - Grita Almeida, socando o volante. - Deus me livre voltar para àquele lugar! Onde já se viu? Aquilo fede a bosta de cavalo...
- Mas era lá que morava antes de entrarmos na Civil...
- Isso mesmo! Antes! E nunca mais ponho os pés ali!
Cinco horas da tarde Almeida e Fred estão em Paquetá. Saltam da Barca Charitas, que surpreendentemente fizera a viagem em uma hora acompanhados por repórteres e os mais diferentes tipos que se movimentam em busca de alguns minutos de fama. Fred sorria irônico para Almeida, lembrando do rádio dos superiores lhes mandando para Paquetá. Os dois saíram da barca de maneira discreta, subiram em um eco-táxi* e metros depois saltaram no hospital local, que ficava a menos de uma quadra da estação de Barcas.
- Porque me fez gastar dinheiro a toa, Almeida? - Reclama Fred, pagando ao eco-táxi pela viagem inútil.
- Foi divertido... Precisava reaver meu bom humor. Seis reais nem é tão caro assim.
- Vai te a...
A frase não se completou. Foram recebidos com fervor pelo Doutor Abreu, um legista de fora e conhecido dos dois policiais. Era um senhor de aparentemente quarenta anos mas cabelos grisalhos quase brancos. Vestia um avental branco com algumas gotas de sangue espalhada e no peito tinha um crachá com o logotipo do Instituto Médico Legal. Pela situação rara e inconveniente, para evitar mais disse-me-disse da Imprensa o próprio IML optou por fazer tudo em Paquetã.
- Que bom que vieram. - Comentou Dr. Abreu, estendendo a mão para Almeida, sem notar que ainda estava com a luva cirúrgica.
- Abreu, a luva. - Indicou Almeida, causando certo constrangimento a Dr. Abreu, que imediatamente se livrou da luva com os dentes e a descartou no chão do hospital sob olhares de reprovação de pessoas no local.
- Para que servem serventes? - Comentou, sem maldade. - Vieram ver a menina?
- Claro Abreu.. - Diz Frederico. - Porque mais estaríamos aqui a essa hora?
- Almeida não é daqui? - Pergunta Dr. Abreu.
- Pelo amor de deus! Eu saí daqui fazem dois anos! Agora moro em Copacabana! Co-pa-ca-ba-na! - Soletrou Almeida.
- Que seja! Venham comigo...
O hospital Manoel Artur Villaboim era um hospital simples. Possuia três entradas. A da emergência pela esquerda, a central que dava nos quartos e uma na direita levava aos consultórios. Abreu guiou os policiais pela entrada da emergência, que ficava um pouco mais para dentro do terreno do hospital. A ala de espera tinha apenas os familiares da vítima - que os policiais reconheceram pela tradicional face da perda, expressão já velha conhecida. - e uma mãe que parecia esperar um filho. Não havia ainda sinal da imprensa, por sorte.
No final e a esquerda da sala de espera estava a porta dupla que dava acesso ao interior do hospital. Dr. Abreu abriu a porta com já certa intimidade e avançou pelos corredores azulejados de azul até uma ou porta de madeira pintada de branco - mas mal conservada. - identificada como "CTI" ou algo parecido. Abreu fez o sinal da cruz em seu peito e entrou, sendo acompanhado pelos homens da lei.
- Desculpem a bagunça. - Comentou Dr. Abreu, enquanto cobria o cadáver de Isabela com um lençol, mas não antes que Almeida e Fred a vissem ainda com as víceras expostas.
A sala parecia bagunçada como Dr. Abreu comentou, mas era uma bagunça anterior a sua passagem e ainda assim mais arrumado do que a área do necrotério onde ele habitualmente estava. A primeira coisa que Almeida e Fred deram falta, e não lamentaram, foi do tradicional cheiro de pobre do IML, ausente naquele quarto. A única bagunça de Dr. Abreu podia ser constatada por uma mesa de instrumentos cirúrgicos ensopados de sangue e um pequeno coração acomodado em uma bacia de alumínio.
- Demoraram a chegar. - Comentou o médico, pegando um pequeno gravador.
- Soubemos depois da barca de 13:30, só pudemos vir na de 16:00. - Responde Almeida.
- Ainda bem que vim cedo e tirei fotos do lugar! A essa hora já deve ter se transformado em ponto turístico desse povo sádico. - Comenta o médico, enquanto coça a cabeça sem perceber que estava com a mão suja de sangue e sem luva. - Querem as fotos agora?
- Não. - Disse Fred, agradecendo com um gesto. - Manda por e-mail... Já era, espero apenas que a trilha esteja interditada.
- Ah, isso está sim. - Afirma Dr. Abreu, com veemência.- s pessoas podem conseguir pular muros, mas com apenas três entradas para a trilha do mirante sudoeste protegidas pelos GMs nada passa.
- Exiistem dois mirantes no Parque Darke. - Explica Almeida ao colega.
- Mas e o que sabe? - Questiona Fred, satisfeito com a curta explicação de Almeida.
- Bem, vamos começar pelos hematomas... Ela não apanhou, as marcas foram resultado de outros fatores. O suspeito provavelmente a arrastou pelo parque sem muido cuidado e a trouxe para o trono, enquanto a despia pelo caminho. Também não houve abuso sexual e ela morreu de afogamento.
- Afogamento?
- Sim, os pulmões dela estavam cheios do próprio sangue... - Falou Dr. Abreu, retirando o lençol de sobre a vítima e virando-a de costas. - Sangue que entrou por aqui!
Havia uma perfuração nas costas da menina exatamente na altura do pulmão esquerdo. Era um corte horizontal e profundo. Dr. Abreu fez questão de mostrar a perfeição do ato, que parecia possível apenas com aço cirúrgico ou algo muito afiado. Almeida e Fred observaram intrigados o ferimento, que parecia dizer muito mais do que apenas trasmitir a forma de assassinato. Dr. Abreu percebeu o espanto dos amigos policiais, cobriu novamente o corpo e com sarcasmo voltou a falar:
- Eu acho que ela foi a primeira. - Comenta o médico.
- Por que seria? - Questiona Almeida, temendo o ponto de vista do médico e amigo.
- Porque acharam mais um corpo... No outro mirante!
Continua...
* Bicicleta de turismo com três rodas, pilotada por um jovem de pernas fortes e que possui uma pequena área estofada na parte traseira onde duas pessoas se acomodam.
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O Parque Sombrio - 1
A Ilha de Paquetá é uma pequena ilha localizada no centro da Baía de Guanabara, estado do Rio de Janeiro, e ligada à cidade apenas através de barcas pegas na Praça XV de Novembro, na cidade do Rio de Janeiro. Um local bucólico e ao mesmo tempo belo, palco de ilustres visitantes como Dom João VI. Uma de suas principais atrações turísticas é o Parque Darke de Matos, um recanto de beleza sem igual situado ao sul da Ilha.
O dia estava ensolarado naquela tarde de Janeiro em Paquetá. Pássaros cantavam e crianças brincavam no gramado do parque. Isabela completara dezesseis anos dois dias antes, e passeava exuberante no vestido de renda que ganhara da mãe. Religiosa e responsável costumava estudar nas tardes livres em um dos mirantes do Parque. "Ali me sinto mais perto de Jesus", dizia quando questionada.
Carregando seus livros de português perdeu a noção do tempo e não notou que os risos das crianças cessaram e que aos poucos os pássaros sumiam. Apenas percebeu o avançar da noite quando ficara difícil ler e voltou a realidade. Olhou seu celular e viu que já passavam das seis da tarde, e em muito pouco tempo escureceria. Assustada e com medo de ser encontrada por algum guarda municipal (não queria levar bronca), pegou suas coisas e desceu pela trilha que subira horas antes.
Enquanto corria sua respiração pesava mais e mais e sentia um nervosismo maior na medida em que escurecia cada vez mais rápido. Sem prestar atenção acabou tropeçando em um galho solto e caiu com as nádegas no chão. Riu consigo mesma pelo medo que sentia e levantou-se rápido, limpando com rapidez a terra de sua saia. "Estou em Paquetá! Deixa de ser nervosa... Rasguei o vestido...", diz para si mesma percebendo um pequeno furo na ponta da saia.
CRAC!
O som interrompe sua mente e a deixa preocupada. Não é algo normal para a hora. Seria um galho quebrado? Um lagarto? A dúvida assombra a mente de Isabela, que começa a caminhar mais rápido. Deixa para trás seu material de escola, com a mente ocupada pelo som.
CRAC!
Não foi um acidente. Foi proposital. Isabela retoma a corrida, agora mais assustada ainda. Não se dá conta do cenário a sua volta e nem se preocupa com mais nada além de correr. Novamente se desequilibra, mas consegue retomar o passo até que chega a uma bifurcação. Se estivesse em condições normais lembraria que o caminho da esquerda era o que a levaria para o final da trilha, o da direita a guiaria para uma parte dos túneis do Darke de Matos. Sua mente pensa em...
CRAC!
Escolher? Com o som mais proximo? Ela segue seu rumo natural (é destra) e chega até uma pequena clareira com três túneis parcialmente obstruídos pelo tempo. Lendas e causos Paquetaenses dão conta que eram antigos depósitos de corpos de escravos. Isabela está nervosa demais para se lembrar desses detalhes. Vira-se para tentar fugir quando algo lhe atinge a cabeça.
A última coisa que vê é a luz do luar quando seus olhos procuram o céu e a salvação por Cristo...
No dia seguinte seu corpo é encontrado no parque. Isabela foi abandonada em um pequeno palco que existe na parte central do Darke.. Está sentada em uma cadeira escavada na pedra. Completamente nua e com diversos hematomas que deixam claro que foi violentada, mas suas mãos estão encostadas e fechadas em formato de concha, com um pequeno papel mantido firme entre elas. Os policiais não se arriscam a tocá-la antes da chegada dos legistas, apenas se ocupando em manter curiosos distantes.
Os pais dela chegam e choram. Tentam tocá-la mas são impedidos pelas autoridades. Lágrimas escorrem, pois Isabela era querida por todos na Ilha, e agora nunca mais poderia realizar seu sonho: ser professora.
E Isabela não seria a última...
Continua.
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