Revelações de Jonas, Missão: Sétima Fase da Missão


Revelações de Jonas: Missão
Sétima
Fase da Missão
Clímax



Uma névoa densa cercava Jonas. Ele via quatorze pessoas, dentre homens e mulheres envoltos por essa mesma névoa. Estavam todos parados observando para além do campo de visão de Jonas. Dentre elas conseguia reconhecer claramente as figuras de Albano e Fernando. E tal como as demais estavam completamente imóveis. A névoa diminuiu gradativamente na medida em que Jonas escutava um zumbido irritante aumentar. Procurou sem muita demora pela fonte do som e viu finalmente que cada uma das pessoas carregava consigo uma caixa com um display vermelho dando contagem regressiva.
E faltava um minuto para o contador chegar a zero.


Uma certa inquietação tomou o peito de Jonas que instintivamente tomou a caixa das mãos de Fernando e a jogou em direção ao infinito. “Pronto, está terminado.”,comemorou antes de olhar novamente para Fernando e ver que a caixa continuava no mesmo lugar. Novamente jogou a caixa distante e como da primeira vez seu retorno se repetiu. Um certo desespero começou a tomar conta de seu peito a medida que o display mais e mais se aproximava do zero. De repente as quatorze pessoas começaram a olhar para o horizonte e Jonas acompanhou-as com o olhar.

Eram os fogos de fim de ano que começavam. As pessoas se abraçaram felizes enquanto largavam as caixas no chão. Jonas escutou uma espécie de estalo e viu os contadores de todas as caixas zerarem. E de repente uma luz branca tomou conta de tudo. Ao invés de sentir a dor que esperava Jonas, apareceu novamente em Santa Tereza, no mesmo lugar onde morrera. As pessoas todas estavam trajadas de branco, sorriam. Pelo que podia ver no relógio de rua faziam cinco minutos que 2007 havia começado. Sentiu-se mais calmo e sentou-se em um dos bancos do largo dos Guimarães e escutou o bater de asas dos pássaros. 

“Pássaros? A meia noite?”, espantou-se Jonas olhando pro céu e vendo uma imensa nuvem negra se aproximar de Santa Tereza vinda do sul. Com um olhar mais apurado viu que não era uma simples nuvem, mas sim uma imensa horda de criaturas tão horripilantes quanto os Vermes do Vazio, mas aparentemente muito mais fortes. As pessoas eram incapazes de ver o que estava por acontecer. Jonas viu aquela velha senhora negra de nome Glória correndo pelas ruas pedindo ajuda pelas almas. Ela tentava em vão tocar nelas e afastá-las de algum perigo iminente.
– Assassino! A culpa é sua! – Berrou Glória, vendo Jonas.
– Minha culpa? – Questionou Jonas, sem entender o que acontecia.
– Sim, você e aquelas pessoas cheias de ódio no coração fizeram isso...
– Isso o quê?
– Isso!

Glória apontou para o lado oposto da nuvem negra e viu uma imensa horda de seres da Luz indo de encontro com os seres enegrecidos. Ambos tocaram enormes cornetas, mas um dos seres de luz se destacava. Era um anjo de vestes completamente brancas portando uma corneta de ouro que brilhava tão forte que de onde Jonas estava podia-lhe ofuscar a vista. Um dos demônios da horda oposta se destacou. Era uma criatura enorme, de forma que lembrava um canino. Ele observava as pessoas caminhando na rua alheias a toda essa tempestade que se formava nos céus. Com uma voz assombrosa, a criatura bradou.
– Ande cria de Deus! Dê a ordem! Que comecem os jogos! – Berrou a criatura.
– Que seja feita a vontade de Deus! Que o apocalipse de João se inicie!

A voz soberba do anjo ecoa por todos os lados, parecendo cruzar os mares e os oceanos, em seguida a figura imponente toca a corneta. Segundo depois um grunhido agudo é escutado e Jonas vê uma enorme figura montada em um cavalo negro passar voando rápido vindo do sul. Era uma mulher de roupas rasgadas coberta por trapos negros. Por onde ela passava uma fumaça verde dilacerava tanto pessoas quanto almas. A mulher passa por ele e um ar completamente carregado invadiu o que seriam os pulmões da alma de Jonas. Se isso acontecesse antes do treinamento, com certeza teria morrido. Mas ainda assim isso não evita a dor lacerante de sentir-se praticamente virado do avesso.

Glória, vendo a cena e a mulher se aproximar, é tomada por um desespero sem igual e corre levando consigo todas as almas que consegue carregar. Infelizmente apenas ganha alguns segundos a mais de existência, a mulher a alcança e com um simples toque nas costas faz Glória desaparecer como purpurina ao vento. Jonas permanece parado querendo assistir a tudo. As pessoas, ainda vivas, começam a cair uma a uma nitidamente sufocas por algo que Jonas não vê, mas sabe o que é. É radiação. Não muito longe, uma televisão ainda ligada anuncia que em outras seis grandes potências do mundo ocorreram tragédias iguais. Além do Eixo Rio e Sampa, os EUA, Suíça, África do Sul, Rússia, Austrália e China também tiveram ataques iguais.
 
Mas antes do repórter tenta completar a matéria, o sinal é bruscamente interrompido quando um machado de guerra coberto de sangue brilhante acerta a televisão. As hordas demoníacas estão materializadas, é o que vê Jonas. Um demônio voa em direção de Jonas e ergue enorme sua espada ameaçadora e violentamente. Não há tempo de desviar, apenas de lamentar não ter percebido a tempo. Com um arco perfeito a lâmina transpassa a cabeça de Jonas, dividindo-a em duas metades brilhantes. Jonas sente cada segundo de dor como se fossem horas. Tudo começa a ficar escuro. Completamente escuro...




Fernando desperta de seu transe poucos segundos antes de ativar o dispositivo. Graças aos efeitos das festas fim de ano toda a Usina relaxava a vigilância e associado a seu tom de pele e a noite que caíra, ficara fácil chegar até o prédio da refrigeração. Era uma enorme estrutura cônica de alumínio completamente isolada termicamente e sempre ligada, por onde enormes dutos levavam o ar gélido para dentro dos reatores em um processo de resfriamento absolutamente necessário para manter todos os dispositivos da Usina funcionando em perfeita ordem. A bomba seria instalada em um canto escuro próximo ao painel de controle do sistema de refrigeração. Se acaso encontrassem a bomba no reator, essa bomba aqui dificilmente seria encontrada a tempo.

Porém, a visão que tivera foi bem clara, e ele não podia simplesmente negá-la naquele momento. Foi como Albano dissera minutos antes, os planos da Organização iam muito além de um simples ataque terrorista. Lembrou-se de quando perguntou a Albano se iam ficar com as motocicletas e ele nem entrou no assunto. As motocicletas não seriam necessárias no mundo dos mortos. Pra sanar suas dúvidas, aciona o dispositivo e vê que tinham menos tempo do que Albano dissera, ou sabia. A bomba não explodiria quando estivessem em segurança, mas exatamente no primeiro minuto de 2007 e em diversos pontos do mundo. Nesse momento estariam perto o suficiente pra morrer.

Sem hesitar Fernando corre até a praia e arremessa o dispositivo o mais longe que pode para dentro do enorme oceano. Mesmo que exploda, o próprio oceano protegerá a Usina de seus efeitos. Mais calmo pelo que fez, Fernando respira fundo e se dá conta que terá uma missão difícil pela frente, convencer Albano a desistir. Enquanto caminha em direção ao prédio da Administração da Usina, Fernando se deixa levar por uma curiosidade quase mórbida e olha para as nuvens do céu. Sorri maliciosamente ergue seu braço direito e coloca seu dedo médio em riste, numa chacota clara a quem quer que esteja observando tudo aquilo. Se seus olhos humanos pudessem ver, teriam visto uma enorme fera rosnar de raiva pela insolência.

Enquanto isso os ecos traziam sons de tiros.



Marta estava sentada em sua mesa da recepção de Angra I. Ela se preparava para comemorar mais um final de ano naquele prédio deserto, mas dessa vez providenciara tudo para que estourasse fogos durante os fogos. Um dos seguranças da Usina, o Armando, estaria lhe esperando no segundo andar para comemorarem juntos o romper dos anos. E fariam jus ao trocadilho infame. Ela e Armando curtiam um caso desde que o enorme e másculo segurança negro de vinte e oito anos aparecera para prestar serviços pela sua firma de segurança. Marta, uma mulher bem vivida, funcionária pública, casada há vinte anos e no auge de seus quarenta anos bem conservados com muita malhação e um pouco de muito tratamento hormonal. Era um “tesão”, como diziam seus companheiros de trabalho. Ninguém desconfiava do caso dos dois, que havia começado dentro do carro de Marta logo no primeiro dia de trabalho de Armando, na garagem da Usina.

De repente seus afazeres extremamente importantes envolvendo maquiagem foram interrompidos pelo súbito som de pancadas do lado de fora do prédio. Pareciam estampidos de fogos contidos por alguma coisa. Marta estranhou e passou um rádio para a equipe de segurança externa. Não obteve resposta. Um calafrio percorreu sua espinha e ela imediatamente pegou o telefone para chamar pela polícia. Completamente mudo. Mais apavorada ainda tentou pegar seu celular apenas pra sentir-se pior ao constatar que o bloqueio de sinal funcionava perfeitamente bem. Estava completamente isolada de tudo.
De repente um dos seguranças externos invadiu o prédio dando disparos a esmo para o lado de fora. Marta jogou-se desesperada no chão, colocou a mão sobre a cabeça. Escutou mais tiros, gritos do segurança, e de repente um baque forte contra sua mesa. E mais nada, apenas um silêncio profundo. Não ousou se mexer, mas então sentiu um líquido pingar em sua nuca e escorrer por seu pescoço e entre os cabelos até chegar a sua boca. Instintivamente tenta ver o que é, mas antes que possa perceber ou confirmar do que se trata, uma mão a agarra pelos cabelos e a ergue violentamente de seu esconderijo até um enorme homem loiro de olhar cruel.
– Por favor... Não me mata! – Implora Marta, com o corpo todo banhado do sangue do segurança, que jaz morto no balcão.

Tirolez olha a mulher nos olhos e diz “Ula Ta'lan L’nis’yuna.”, em seguida aponta sua FiveSeven munida de silenciador na cabeça de Marta. Uma lágrima escorre de seu rosto quando de repente ela escuta um tiro e um zumbido passa próximo dela. Tirolez se esquiva quase que instintivamente, mas deixa os cabelos da mulher escaparem de sua mão. Com uma procurada rápida com o olhar vê um enorme segurança negro apontando uma arma para ele. “Esse negro é bom...”, pensa Tirolez, dando conta que o tiro passou raspando pela proteção do ombro de seu sobretudo. Se fosse mais para a esquerda estaria morto.
– Largue a arma e erga as mãos. – Disse Armando, enquanto Marta corria até ele toda banhada do sangue de seu parceiro.
– Com prazer. – Responde Albano.

O assassino solta a arma com certa violência contra o chão e de modo tal que assim que cai dispara aleatoriamente e diversas vezes, e ao mesmo tempo se joga na direção do balcão. Armando leva um susto e se coloca diante de Marta, para protegê-la de eventuais disparos. Esses milésimos de segundo dão tempo suficiente a Tirolez de sacar uma granada de fragmentação e a arremessar contra o casal enquanto salta para trás do balcão que agora serviria de trincheira. Pra aumentar a proteção puxa o corpo do segurança morto e cobre-se com ele, levando um banho de sangue.

Armando não pensa duas vezes quando vê a granada e só pensa na segurança de Marta. Ela tem uma família, e ele? Apenas é um enorme consolo que as mulheres utilizam pra satisfazer fantasias. E no fundo, ele realmente ama Marta e quer salvá-la de qualquer jeito. Por isso, sem hesitar salta sobre a granada e a cobre com seu corpo. Marta tenta algo, mas apenas escuta o som abafado da explosão destruindo Armando e o corpo de seu amante sacudindo por causa do impacto contido. “Corre”, diz Armando um segundo antes de tocar o chão. 

Marta hesita por um instante querendo abraçá-lo e beijá-lo uma última vez, mas precisa correr como nunca. Deixa seus sapatos de salto alto para trás e corre em direção a saída, mas antes de passar pela porta é atingida por algo nas pernas e rola pelo chão. Ainda grogue vê uma cadeira da recepção ao seu lado, coberta de sangue, e sente uma dor enorme na canela direita. Ao olhar para a perna vê o osso exposto, fraturado pela violenta pancada. O louco arremessara a cadeira da recepção contra ela e agora caminhava friamente em sua direção.

“Amem!”, fala Albano, sacando sua segunda pistola e disparando contra o rosto de Marta, que tomba no chão, ainda viva. Obviamente Albano percebe, mas pra não desperdiçar mais balas, ele ergue a cadeira que arremessou segundos atrás e golpeia Marta diversas vezes até que de sua cabeça apenas restem fragmentos dos ossos do crânio espalhados pelo chão cobertos de sangue. Satisfeito com o resultado, joga o que sobrou da cadeira sobre o cadáver e vai até o elevador da Administração. Falta muito pouco para concluir a missão, e quando estiver na porta da área restrita ele e Fernando cumprem a missão e partem o mais rápido que podem. Apesar de não estar incluída nas ordens sua sobrevivência, Albano não deseja morrer ali. “Morte é a falha da missão do soldado.”, pensa.
No caminho Albano ainda mata mais dois seguranças e vai para o local de encontro.



Ele aguarda solenemente o momento em que deve aparecer. Está sentado em uma cadeira na ante-sala do objetivo de todos. Ajeita seu terno impecável e penteia seus longos cabelos loiros. Precisa estar perfeito para o grande momento. São nove horas da noite, ainda faltam três horas para tudo acontecer. E vai acontecer. O insolente pode ter feito o que fez, mas ainda restava um dispositivo. Malditos anjos caídos, sabia que não podia confiar neles jamais, mas as circunstâncias tornaram isso obrigatório. Naquele momento era a única maneira. E tudo isso por causa daquela zombeteira que atrasou o plano dos planos.



Fernando chega correndo ao saguão de entrada precisamente as nove e meia da noite. Demorou a chegar porque no caminho teve que espantar dois drogados que vieram assistir o tiroteio. Por sorte não precisou matar os dois, mas evitaria falar disso a Albano porque ele odiava testemunhas. Por sinal, o rastro de Albano era nem um pouco delicado. Até chegar a entrada viu pelo menos dez seguranças mortos, e quando coloca os pés no interior do prédio principal a primeira coisa que vê é uma mulher de aparentemente quarenta anos com a cabeça esmigalhada e espalhada pelo chão. 

Não muito longe desse cadáver vê um outro segurança deitado no chão com uma poça de sangue debaixo dele. O cheiro recente de queimado e alguns fragmentos de granada dão a Fernando a noção exata do que ocorrera e desiste de virar o corpo pra ver o que acontecera. No final do saguão vê um corpo jogado no chão e um rastro de sangue leva até um dos elevadores. É fácil para Fernando saber para qual andar Albano foi, o botão do subsolo está marcado de sangue. Por um instante Fernando mostra-se preocupado com a quantidade de sangue.

Nove e quarenta da noite ele finalmente encontra Albano sentado diante da porta de acesso aos níveis restritos. Sua cadeira é formada por dois corpos dos seguranças amontoados um sobre o outro, formando uma espécie de cadeira mórbida. Seu parceiro está completamente coberto de sangue, mas aparentemente inteiro. E pra variar, está fumando apesar dos avisos do perigo de se fumar naquele ambiente. “Pra que se importar com avisos, se isso vai explodir mesmo?”, fala Albano notando o espanto de Fernando. O jovem negro pensa em avisar a Albano do perigo que correm naquele momento, mas é melhor fazer isso quando virem o timer se ativar. “Talvez o susto da proximidade da morte o torne mais sensato e menos obcecado.”, pensa Fernando, com muita esperança disso.
– Você chegou vinte minutos mais cedo. – Comentou Albano. – Nem comecei direito a fumar meu primeiro cigarro... Vamos logo, fez tudo direito?
– Sim. – Mentiu Fernando, descaradamente. – Estava pensando, quantos meses passamos juntos?
– Acho que quase seis meses, meio ano. – Disse Albano.
– Gostaria de dizer que foi muito bom ter você como amigo.
– Já vai começar com seus trejeitos? – Comentou Albano, rindo. – Te mato aqui mesmo...
– Bem, tem algo que quero lhe dar, pois estou com um pressentimento ruim. – Disse Fernando, sentindo-se estranhamente confuso.
– O que?

Fernando salta sobre Albano e o beija apaixonado. Inicialmente, e provavelmente completamente chocado, Albano fica estático por muito segundos que nem uma estátua. De repente se dá conta do que está acontecendo e joga Fernando contra a parede. A primeira coisa que faz é puxar sua faca de caça e imprensá-la contra o pescoço de Fernando, quase degolando-o. Entretanto, pela primeira vez em sua carreira toda ele hesita. Não vai matá-lo naquele momento, apesar de Fernando ser completamente descartável, ainda mais depois dessa ousadia, ele surpreendentemente não quer vê-lo morto.
– Nunca mais faça isso. – Diz Albano, com o olhar cheio de ódio e ao mesmo tempo completamente chocado por dentro.

Albano limpa sua boca com o sangue espalhado em suas roupas e pega um dos cartões de identificação dos soldados mortos. Digita a senha que obteve enquanto mentia dizendo que pouparia a vida deles se a fornecessem, e depois passa pela identificação de retina arrancando o olho de um deles. Um apito rápido e uma luz verde se acendem, dando aos dois a autorização necessária para avançar. Uma névoa branca e muito fria se espalha pelo corredor, cobrindo ambos até um metro de altura. Nesse momento ambos agradecem por terem lembrado de colocar sobretudo.

O assassino, munido de seu revólver, é o primeiro a entrar, seguido de Fernando. É uma sala branca, ampla, cheia de macacões brancos revestidos com chumbo. Um pouco mais a frente existe uma porta de vidro reforçada que dá em um outro ambiente que de lá podem ver que tem diversos chuveiros. Imediatamente os dois percebem que estão nas câmaras de descontaminação. Para evitarem problemas, ambos começam a se vestir adequadamente para o que têm que fazer juntos. E avançam para a sala seguinte.



Os ímpios estão vestindo as roupas de proteção. O primeiro verme a entrar na sala de desintoxicação é o loiro oxigenado. Não gosto dele, ele fede a sangue e veste-se com o sangue dos inocentes. Mas ele é necessário. O insolente o segue como o pecador que é. Não importa, eu vou deixá-los darem passos largos em direção de minha humilde presença. Não quero que me percebam até que a porta esteja trancada. Providenciei névoa fria o suficiente para ocultar-me deles até julgar necessário. Eles precisam estar desse lado em que estou. Se quisesse os puniria de imediato, mas apenas Ele pode fazê-Lo e autorizar-me, mas darei a Ele a chance de escolha.



Fernando e Albano caminham pelos chuveiros paramentados completamente para adentrarem no coração da Usina, o reator. Albano carrega consigo o dispositivo explosivo enquanto Fernando estuda formas de convencer Albano a desistir da missão. “Como convencer um homem a parar... Ainda mais um homem que usa corpos como cadeira?”, indaga Fernando perdido em pensamentos. Sempre de arma em punho, os dois evitam caminhar rapidamente e serem surpreendidos por algo desagradável saindo dessa névoa, que obviamente não é normal nesse ambiente. Está frio até demais para os padrões informados nos planos que estudaram nos últimos meses. Com cautela passam para a sala seguinte, faltando apenas mais uma para chegarem finalmente ao reator principal.
– Tome cuidado. – Falou Albano. – Não sabemos o que nos espera aq...

Albano não consegue completar sua frase, uma força misteriosa o ergue no ar e o choca violentamente contra a parede. A arma de Albano é jogada do outro lado da sala e quando pára todas as balas da mesma se espalham pela sala saltando uma a uma do tambor do revólver. A caixa com os explosivos cai do mesmo jeito, desaparecendo na nevoa. Fernando até tenta fazer algo, mas a mesma força age sobre ele e o joga contra a parede diversas vezes. As pancadas são tão fortes que a roupa que usa se rasga, expondo-o a radiação. Uma dor terrível imediatamente percorre o corpo de Fernando, muito mais motivada pelo psicológico do que pela radiação em si, que é mínima. Os dois presos na parede por essa força misteriosa procuram pela origem do problema e vêem uma pessoa se aproximando vinda da sala seguinte.

É uma mulher de aparentemente vinte e poucos anos. Cabelos loiros e cacheados, olhos azuis e um semblante pacífico. Usa um batom levemente avermelhado e seu rosto está levemente corado. Veste um terno branco igual aos dos malandros da lapa, que deixa suas belas curvas ainda mais sensuais, com uma rosa vermelha na lapela. Sua mão direita segura o tradicional chapéu de palha, completando o visual. Fernando e até mesmo Albano ficam hipnotizados pela beleza pura e profunda da mulher de vestes pouco usuais. Mas algo na moça faz com que ambos sintam-se um tanto perturbados por sua presença.
– Ímpios... – Balbucia a mulher de voz doce e serena, sem aparentar nenhuma raiva. – Vieram até aqui para falhar?
– Falhar? – Estranhou Albano. – Como assim falhar?
– Exato, Albano. – Disse a mulher. – Existe uma mácula em seu plano.
– Se você sabe meu nome, acredito que mereça ao menos saber o seu...
– Sônia,... Ou arcanjo Bismaah, 15º das tropas de São Rafael... Só não sei que diferença faz saber meu nome...
– Faz, ao menos tenho o que colocar na lápide.
– Na situação em que se encontra, acreditas realmente que vai conseguir algo além de quicar na parede até eu me cansar?

As palavras da mulher foram enfáticas e num piscar de olhos Albano quicou na parede diversas vezes. O som dos ossos de Albano estalando e sendo quase quebrados era escutado por todos na sala. E apesar de todos esses atos, o olhar de Sônia não mudava, ela continuava calma e serena. Fernando em paralelo se indagava em como ajudar seu parceiro a sair dessa situação, mas não conseguia pensar em nada.
– Satisfeito? – Afirmou Sônia, jogando o corpo dolorido de Albano no chão. – Agora pode me ouvir ou continuo de onde parei?
– Fale... – Balbuciou Albano. – Nada que disser vai me convencer a não te matar.
– E quanto a matar o negro ao seu lado?
– Ele?
– Sim, acredito que esse PC de bolso que carrega seja capaz de ver um vídeo interessante filmado pelas câmeras de segurança... Não?
– E onde está esse vídeo?
– Aqui.

Sônia sacou do bolso um pequeno cartão de expansão de memória. Foi calmamente até Albano e o encaixou no PDA que seria utilizado para sincronizar os explosivos. Albano nada podia fazer a não ser assistir, pois estava completamente imóvel. Subitamente Fernando sentiu um calafrio ao ver o PDA ser ativado por Sônia e abrir o programa de executar arquivos de mídia. Propositalmente Sônia se colocou na frente de Fernando, impedindo-o de assistir ao vídeo. Fernando viu nitidamente o semblante de Albano mudar e seu olhar assassino assumir o comando novamente. Um novo calafrio percorreu sua espinha.


Sem demonstrar nenhuma emoção, Sônia se levantou e foi até a arma de Albano. Analisou-a, abriu o tambor vazio e uma a uma as balas que estavam espalhadas pelo chão voam e voltam para o lugar onde tinham saído. Albano e Fernando permaneceram calados o tempo todo, vendo a arma ser colocada de volta em atividade. Quando a última bala encaixa no tambor, Sônia deposita o revólver no chão e o chuta até Albano. Imediatamente o assassino se vê livre novamente e pega sua arma. Fernando se esforça pra se mexer, pressentindo que algo está errado, mas a única coisa que consegue é rasgar o que resta de suas roupas sendo novamente chocado diversas vezes contra a parede.
– Quer ver o vídeo, meu amigo? – Fala Albano, olhando fundo nos olhos de Fernando.
– Do que está falando que tem no vídeo? – Pergunta Fernando, nervoso, mas sem entender o teor do vídeo.
– Este vídeo...

Albano pega o PDA e mostra o vídeo a Fernando. É uma gravação do sistema de segurança, mostrando exatamente o momento em que Fernando ergue o dispositivo em frente o cais e o arremessa no mar. Os olhos de Fernando não acreditam no que vêem e passa a ter a certeza de que tudo está perdido.
– Em uma guerra, sabe o que acontece com os soldados que traem a tropa?
– Albano, deixe-me explicar... Nós vamos morrer! Fomos traídos e sacrificados pela Organização! A bomba está programada pra nos levar junto! Espere!...

Fernando não consegue completar a explicação. Albano dá seis tiros no peito dele, que tomba no chão já morto. Sônia finalmente sorri quando vê o corpo morto de Fernando no chão e comemora internamente. Ela vê no braço de Fernando a marca daquele que mais odeia, a assinatura da Sombra. Dessa vez a maldita Sombra não conseguiu adiar o inevitável. Dessa vez, ela foi derrotada. Dessa vez tudo vai acontecer do jeito que querem, mesmo que para isso tenham que ter ajudado os malditos anjos caídos. Albano abaixa a arma e algo em seu semblante parece mudar, mas que Sônia, imersa no próprio orgulho, não percebe.
– Parabéns soldado. – Falou Sônia, trazendo consigo o dispositivo explosivo e o entregando nas mãos de Albano. – Agora, a próxima sala é seu destino. Os técnicos lá dentro estão mortos... Seus corações pararam, sabe?
– Diga-me uma coisa, porque vocês fizeram isso? – Pergunta Albano, enquanto confere seu revólver.
– Porque há anos vemos a humanidade se degradar, se destruir uns aos outros... E nada podemos fazer a não ser pescar entre os ímpios poucos dignos de escapar da entropia humana. Se não fosse o Pacto das Águas, já teríamos dizimado sua civilização e eliminado esse câncer que tanto alimenta as hordas infernais... Tudo por causa do Livre Arbítrio.
– Estranho, não deveriam proteger a humanidade? Não foi esse o motivo da queda de tantos de vocês? Discordar disso?
– E é o que faremos... Protegeremos a humanidade dela mesma. Uma nova era, sob o nosso julgo, pois ganharemos dos cães do Inferno na guerra que eles querem começar. Assim está escrito.
– E todos os seus são partidários disso?
– Nem todos... Existem alguns que ainda acreditam na raça humana, cegos por um amor que não deveria existir.
– No final das contas vocês são bem parecidos com os sem asa...
– Encare como quiser, soldado... Faça o que sabe fazer de melhor, cumprir ordens.

Albano ergue-se a caminha calmamente em direção a próxima porta. Sônia sorri discretamente, satisfeita por ter dado a vitória aos inferiores a ela. Sabe que cometeu pecados, mas Ele perdoará todos os seus irmãos que participaram disso. Ele perdoará quando assistir os frutos de seus atos. Todos os seus irmãos alados avessos a essa visão os perdoarão por isso, todos. E agora falta tão pouco para a primeira trombeta soar, que Sônia se deixa escutar ao longe o bater das asas das tropas ávidas pelo combate. E então escuta um som nada convidativo, o de uma arma sendo engatilhada.

O assassino aproveita-se da distração da mulher e gira o corpo disparando os dois últimos tiros de seu revólver. As balas atravessam o peito de Sônia, que cai no chão completamente desconcentrada, e incapaz de manifestar seus poderes por causa da dor intensa no peito. “Malditas carcaças...”, lamenta Sônia por estar presa a carne e suas dores. Ainda caída no chão ela gira seu corpo e olha Albano nos olhos, ergue sua mão direita para invocar suas últimas forças. Albano saca sua faca de caça e decepa a mão de Sônia antes que possa fazer seu truque novamente. Sônia grita de dor e segura o coto de sua mão que solta muito sangue.
– Tem uma coisa que eu quero que você leve contigo para seus semelhantes... – Diz Albano.
– O que? – Pergunta S6onia, antevendo seu destino.
– Isso!

Tirolez rasga a roupa de proteção e seu sobretudo com a faca. Expondo exatamente a mesma marca que há no corpo do recém-falecido Fernando. A marca da Sombra. Sônia observa estupefata a revelação de Albano e é tomada por uma fúria tamanha que seus poderes voltam a funcionar. Ela produz um vento misturado a chamas divinas, e joga Albano novamente contra a parede. O ataque é tão violento que pedaços do chão são carregados pela ventania, atingindo Albano diversas vezes como se fossem navalhas. Albano não demonstra sofrer, e apenas exibe um sorriso malicioso nos lábios, deixando bem clara sua mensagem. Os olhos de Sônia já estão pesados por causa da perda de sangue, mas ela está completamente disposta a levar Tirolez com ela.
– Sabe o que mais gosto nesse país? – Berra Albano, sentindo a pressão de ar querendo tomar-lhe a consciência.
– O que? – Berra Sônia, querendo prolongar o sofrimento de Albano.
– A eficácia de nosso serviço público.

Sônia é atingida em cheio por um pedaço de reboco que solta do teto. Como seu próprio vento era violento por demais, o reboco joga a mulher contra Albano que a pega num abraço mortal. Sônia sente quando Albano encrava-lhe a faca na barriga e a gira. “Nos vemos no inferno.”, diz Albano, e sem tirar a faca do corpo de Sônia faz um arco para cima abrindo um enorme corte na mulher que começa em sua barriga e vai até seu ombro direito. Já sem nenhum esboço de vida Sônia cai no chão e toda a violência de seus ataques cessa. Albano, livre de tudo, pega novamente a caixa explosiva e caminha cambaleante em direção ao reator. Ele vê a hora, ainda são dez horas da noite, ainda há tempo de cumprir sua missão.
– Um soldado sempre cumpre sua missão.



Em todo o mundo a rede da Organização entra em colapso. Não há resposta alguma dos dispositivos que deveriam ter sido instalados na Usina de Angra I. Regina recebe diversas ligações.de outros líderes, querendo respostas sobre a falha do núcleo do Rio de Janeiro. E falha significa morte na Organização. Ela tenta diversas vezes ligar para o celular de Albano e de Fernando, mas a única coisa que escuta é a mensagem da operadora avisando que os celulares estão fora da área de cobertura. Faltam apenas um minuto para a meia-noite e nada de obter resposta.


Regina naquele momento está dentro da sede da Organização, preparando seu helicóptero para fugir dos detritos nucleares que chegarão depois da explosão. Mas a falta de informações a respeito de seus assassinos a preocupa. Os satélites informavam que nada ocorrera, então não tinham morrido por causa de nenhuma explosão, e Albano era bom demais para falhar desse jeito. Já escutava de longe o eco dos fogos sendo disparados pelo Rio de Janeiro. As luzes de 2007 estavam à espreita e nada tinha acontecido. Faltavam menos de um minuto para explosão.


De repente Regina escuta o som de tiros, muitos tiros. E gritos. Ela rapidamente chama pela segurança pessoal e se lembra que enviou seu soldado principal para a morte. Por ordens do maldito Niamaran. Ela nunca sacrificaria seu melhor soldado e amante, nunca. O som de tiros cessa e alguém gira a maçaneta da sala de Regina. Ela sente a morte próxima, mas quem vê entrar na sala é Albano.


Suas roupas estão em frangalhos. Ele está coberto de sangue e seus olhos estão tomados por sua fúria assassina. Regina, ignorando o perigo corre até ele e o abraça. É um abraço sincero, ela realmente gosta dele. Abados se importa com Albano. A retribuição vem na forma de um chute violento na barriga que a joga contra a mesa. Regina tenta se levantar, mas não consegue. Dói muito e várias costelas quebraram com a pancada.
– Albano? O que aconteceu? – Pergunta Regina, assustada.

Tirolez não responde e apenas mostra a ela o dispositivo explosivo restante. Ele aperta o botão azul do dispositivo e o display mostra que restam apenas três minutos. Regina desespera-se mais ainda, e se esforça em se levantar para correr. Albano saca sua pistola e atira nos joelhos de Regina, que cai no chão gritando de dor e chorando. “Eu te amava maldito... Eu te amava! Eu nunca quis te enviar para lá! Nunca!”, berra Regina, sofrendo mais pela traição súbita dos sentimentos de Albano do que pela dor física. Sem olhar para trás Albano abandona o dispositivo e parte, deixando apenas o dispositivo.
Regina se arrasta em vão pelos corredores da Organização tentando fugir.


É zero hora e três minutos do primeiro dia do ano que se inicia, 2007...


Os fogos tomam conta de Copacabana. É um espetáculo maravilhoso de luz e sombras. Como nos anos anteriores o investimento no espetáculo provoca maravilhas nas pessoas. De repente uma enorme explosão é escutada por todos e um clarão vem do centro da Cidade. Todos imaginam se tratar de parte da comemoração e aplaudem felizes pelo início de um novo ano. No centro da cidade os últimos andares do prédio 1056 da Avenida Presidente Vargas estão em chamas. Os bombeiros, ainda entorpecidos pelas comemorações demoram pelo menos cinco minutos para chegar e vêm um espetáculo de chamas e horror que muitos carregarão para sempre com eles. A explosão foi tamanha que havia chamas em pelo menos quatro prédios vizinhos, e até mesmo a pista central da Av. Presidente Vargas estava coberta de destroços. Se existia algum ser vivo naquele lugar, não teria o que se enterrar.



Em um desfiladeiro vermelho, em algum lugar muito distante, duas taças de champagne chocam-se uma com a outra. São seres satisfeitos e felizes com o resultado de tudo. Bebem com louvor do líquido e tornam a encher os copos. Há muito que comemorar naquele início de ano. No último gole arremessam a garrafa e as taças na imensidão do Rio Cinzento.
– Eu falei que conseguiria... – Diz a Sombra.
– É, eu sabia, nunca duvidei de você. – Respondeu o outro ser, envolto por um manto cinza claro.
– E agora o que faremos?
– Curtir nossa vitória...

E os dois seres gargalharam...

Revelações de Jonas, Missão: Sexta Fase da Missão

Revelações de Jonas: Missão
Sexta Fase da Missão
Execução

Os corpos foram queimados nos minutos que se seguiram. Tirolez jamais perderia essa oportunidade, por mais que doesse sua perna em virtude do tiro que levara. Ainda tinha disposição suficiente para correr uma maratona se precisasse ou se ordenassem. Providenciou durante a queima que a Carne Moída ficasse em uma posição de destaque e deu-lhe um banho especial de gasolina para queimar melhor e por mais tempo.

Enquanto isso uma equipe da Organização providenciou uma substituição do carro queimado de Albano por um de seus outros dez carros. Como estavam próximos de uma das bases operacionais, a Ilha do Fundão, a substituição ocorreu em menos de dez minutos dando aos dois agentes tempo o suficiente para seguirem viagem rumo ao aeroporto ainda a tempo de acompanharem Amanda para Angra dos Reis. Fernando permaneceu o tempo todo calado, voltando a falar apenas quando entraram novamente no novo carro.
– Como você conseguiu sobreviver? - Perguntou Fernando, depois de muito tempo sem falar.
– Sorte e um pouco de habilidade. – Respondeu Albano.
– Habilidade? – Perguntou Jonas.
– Sim, treinei rolamento por muitos anos e fiz cursos de dublê de filmes de ação em Hollywood, com isso aprendi que tipo de roupa vestir e como preencher minhas roupas com química de escola.
– Roupas? Química de escola?
– Você realmente acha que eu vestiria um sobretudo num calor tropical só por causa de visual?
– Bem...
– Não, ele é preenchido com uma camada protetora que agüenta alguns tiros, e na camada superficial tem bolsas de plástico recheadas com sangue do diabo... Está vendo sangue em mim além do da perna?
– Não.
– É disso que eu falei... Sangue do Diabo é uma substância que se fazia em casa nos meus tempos de escola. Misturamos Lactopurga com amônia e temos um sangue falso muito convincente, mas que some depois de alguns minutos.
– Estranho...
– O que?
– Quem te vê com toda essa calma nem imagina que minutos atrás você estava queimando um monte de gente...
– É porque matei... Como te disse mais cedo, eu sou viciado em matar, e quando mato fico calmo demais.

Fernando se calou novamente. Já tinha visto e ouvido demais para aquela noite, e só queria terminar aquele serviço o mais rápido que pudesse. Primeiro uma qualquer que se achava a rainha da cocada preta, depois um tiroteio. "Preciso dormir logo", pensava Fernando quase dando cabeçadas na janela do carro.



Amanda aguardava impaciente pelo retorno dos agentes. Sua vontade era ter pego o jatinho assim que chegaram ao aeroporto. Mas não! Ela era obrigada a esperar por ordens expressas de Regina. Ao final de uma hora entediante os dois chegaram. Albano mancava e estava com uma das pernas coberta de sangue. O negro parecia estar bem. Amanda queria que o negro tivesse morrido. Ela odiava essa raça, e depois de iniciada continuava a odiar ainda mais.
– Saudades... – suspirou Amanda, diante dos outros agentes que a acompanhavam.
– Do que? – Perguntou o agente, estranhando a súbita mudança no tom de voz sempre arrogante de Amanda.
– De meu outro eu... Se fosse naqueles tempos não me sentiria suja. – Respondeu Amanda.
– O que você era antes? – Continuou o agente.
– Ku Klux Klan. – Afirmou Amanda, olhando com orgulho enquanto notava que Fernando escutara tal nome.

Fernando bem pensou em responder Amanda a altura, mas foi contido por um puxão de Albano em sua camisa, fingindo pedir auxílio para andar. “Não... Deixe o dela pra depois... Primeiro as ordens! Sempre as ordens!”, sussurrou Albano no ouvido de Fernando. O jovem negro precisou realmente se controlar para ao menos não dar um sonoro bofetão naquela mulher irritante, mas pelo olhar de Albano sabia que nada de bom viria. E pra evitar problemas passou o restante do tempo cantarolando músicas em sua mente pra escapar das provocações que escutaria durante a viagem.



Mesmo com todos os atrasos, os quatro agentes da Organização e Amanda ainda conseguiram chegar até o pequeno aeroporto de Angra por volta das quatro da manhã. Para evitar complicações nos ferimentos de Albano, o assassino foi direto para um hospital particular financiado pela Organização para tratar da perna. Fernando permaneceu na pousada onde se hospedaram o restante da madrugada e até o horário em que Albano retornou. Nitidamente aborrecido porque os médicos queriam que ficasse em repouso, mas Albano somente o faria após cumprir suas obrigações. Por volta das cinco horas da tarde do dia seguinte o telefone celular de Albano tocou. Ele e Fernando já estavam num táxi a caminho do aeroporto quando Regina fez sua ligação revoltada:
– O que diabos vocês estão indo fazer no aeroporto a essa hora?
– Bem, você disse para não sairmos de Angra... Ia te ligar do Aeroporto. – Respondeu Albano, relativamente ríspido.
– Pois então voltem para a pousada. Amanda irá encontrá-los dentro de meia hora. – Ordenou Regina, desligando o telefone em seguida.
– Droga. – Reclamou Albano, enquanto colocava o telefone no bolso.
– O que foi? – Perguntou Fernando, não gostando do tom de voz de Albano.
– Temos que voltar, aquela filha da puta da Amanda tem ordens da Regina para nós!
– Merda!

Imediatamente Albano ordenou ao taxista que os levasse de volta a pousada e em menos de vinte minutos estavam novamente no saguão do local. Amanda estava sentada no bar do hotel, bebendo um whisky e tragando um charuto provavelmente de Havana. Como sempre, ela estava acompanhada de seus seguranças, pelo menos oito seguranças dessa vez. Era estranho ver uma mulher com tal fisionomia tragando um charuto com tamanha facilidade, mas era exatamente isso que ocorria. E o charuto fedia tanto que o gerente do hotel sentia-se incomodado, mas por ela ser quem era deixava passar direto e fingia ignorar.

Os dois agentes da Organização sentaram-se diante de Amanda, puxando um banco de madeira cada. Albano puxou um cigarro e começou a fumar, fazendo questão de soltar à fumaça em cima de Amanda. Fernando pensou em sorrir com isso, mas pra evitar maiores discussões optou por ficar calado enquanto pudesse.
– E então? Diz logo... – Falou Albano, deixando transparecer sua irritação.
– E perder a chance de saborear o momento? – Respondeu Amanda, dando uma longa tragada no charuto e retribuindo o banho de fumaça de Albano. – Falo quando quiser, o interesse é de vocês... Se quiser espero o dia todo só pelo prazer de tê-los submissos ao meu lado.
– Devo lembrá-la que posso ligar para Regina a qualquer momento? – Disse Albano, com um sorriso no rosto e pegando o celular em seu bolso e começando a ligar. – Se por acaso suas atitudes prejudicarem a Organização, estou autorizado a... Você deve lembrar, não?

Amanda gelou e parou de fumar. Acenou aos seguranças que foram direto até o gerente e pediram a chave de um quarto. De chave entregue, um dos seguranças vai em direção aos quartos e os sete restantes foram Os três – Albano, Fernando e Amanda. – se levantaram e caminharam até esse quarto, acompanhados de perto pelos seguranças da mulher. No que chegaram, foram recepcionados pelo segurança que saiu na frente. Para entrar no quarto dois seguranças acompanharam Amanda e os cinco restantes ficaram no corredor em frente a porta do quarto. 

Não que não quisessem entrar, mas o quarto era pequeno para tanta gente. Dentro do quarto ficaram então três dos seguranças de Amanda, a própria, Fernando e Albano. Era um quarto típico da região. Apenas um armário simples, uma cama de casal e a porta do banheiro da suíte. Ao menos tinha uma enorme janela que dava para ver a Praia do Retiro. Amanda sentou-se na enorme cama e tornou a acender o charuto, ordenando aos seguranças que trouxessem a encomenda. Imediatamente um dos seguranças que ficou do lado de fora foi correndo em direção ao carro dela.
– Deve demorar uns cinco minutos... Podemos conversar enquanto isso... – Balbuciou Amanda, sem retirar o charuto da boca. – Você, crioulo, como conseguiu entrar na organização? Ouvir dizer que é biba... Como consegue não agarrar esse deus romano ao seu lado?
– ...
– É preta e muda? – Disse Amanda, continuando a provocar. – Deve ser o sotaque de Paraíba dele que te irrita, não? Eu também odeio essas merdas... Pretas, paraíbas... Essas porras tinham todas que morrer! Mas eu? Sou uma mulher perfeita! Tenho o dinheiro de meu marido pra me sustentar e um monte de político querendo meu rabo... Vou ficar cheia da grana em pouco tempo! E vocês? Vão encher o rabo de chumbo mais cedo ou mais tarde... Pelo menos a pretinha vai curtir.

Fernando fez menção de avançar e quebrar a cara de Amanda, mas ela foi salva pela chegada repentina do segurança que fôra até o carro. O rapaz trazia consigo uma pasta preta grande, no formato A2 e a colocou sobre a cama. Amanda a abriu e retirou dela algumas plantas avulsas. Fernando e Albano observaram os papéis com interesse e leram em diversos que se tratavam de material da EletroNuclear, a agência nuclear do Brasil. Eram todas as plantas da Usina Nuclear de Angra I. Sem entender do que se tratava, Albano e Fernando analisaram o material sem compreender a magnitude de tudo aquilo, até que Amanda recomeçou a falar:
– Bem, seus cérebros atrofiados não devem estar compreendendo... Essa é a missão de vocês.
– Missão? – Perguntou Albano, sem levar Amanda a sério.
– Sim, no dia 31 de dezembro desse ano, quando derem onze horas e cinqüenta e nove minutos, vocês deverão explodir todo o complexo nuclear de Angra I.
– Entendo. – Respondeu Albano, sem demonstrar muita preocupação.
– Dentro em breve as pessoas da organização entrarão em contato com os detalhes da missão, até lá serão felizes habitantes de Angra dos Reis.
– Essa era sua participação na missão? – Perguntou Albano.
– Sim, porque a pergunta? – Respondeu Amanda. – Eu deveria trazer e obter os planos e mapas de Angra I para vocês, depois estaria livre pra curtir a vida.
– Ótimo.

Angra I, um belo lugar, não? 
 
Antes que Albano pudesse fazer o que queria, Fernando sacou sua arma FiveSeven e disparou duas vezes acertando o peito de Amanda, que voou pela cama em direção a parede do quarto. Os seguranças tentaram ensaiar algum movimento, mas foram mortos por Tirolez que foi mais rápido e deu um tiro certeiro no joelho de cada um. Os dois assassinos rapidamente trocaram olhares e Fernando caminhou até Amanda, que estava caída no chão chorando cheia de dor.
– Dói, não? – Perguntou Fernando, enquanto recarregava a arma e se aproximava mais.
– Preto desgraçado... Preto desgraçado... – Falava Amanda, com as mãos no peito.
– Sabe, até te conhecer eu pensava duas vezes antes de matar alguém... – Continuou Fernando, até se aproximar de Amanda e poder sussurrar em seu ouvido. – O legal é que vou te destruir em definitivo, vês a sombra? Diz a ela que a “preta biba” te aguarda...

Os olhos de Amanda viram algo que não tinha percebido antes e ela tentou gritar por ajuda, mas era tarde demais. Fernando descarregou a arma na cabeça de Amanda, que no final dos disparos era apenas um enorme cadáver decapitado coberto de sangue e restos de crânio. Tirolez se aproximou de Fernando e colocou-lhe a mão direita sobre o ombro de Fernando. “Matar é viciante...”, disse Tirolez enquanto dava um último disparo sobre Amanda, cujo corpo ainda apresentava espasmos involuntários. Os seguranças foram poupados, não por piedade, mas porque eram membros da Organização, e conseguiram avisar Albano a tempo. Se tivessem demorado, com certeza teriam sido todos mortos. Minutos depois do assassinato, enquanto o corpo de Amanda estava sendo levado para o esquecimento, o telefone de Albano tocou, era Regina novamente:
– Você não consegue deixar de matar, não? – Perguntou Regina, com a voz carregada de ironia.
– Dessa vez não deu tempo... O calouro foi mais rápido que eu, quando vi já tinha dado dois tiros na vagabunda. – Respondeu Albano, fazendo questão que Fernando escutasse. – Qual a missão exatamente?
– Bem, vocês dois vão passar o restante do ano aí observando os hábitos de Angra dos Reis para na ultima noite do ano instalar um dispositivo que vai destruir a usina nuclear de Angra I.
– Posso saber o motivo?
– Não, apenas cumpra as ordens... Mas não se preocupe, o dispositivo tem um timer e ele vai explodir três horas depois que tiver partido, logo, terão tempo pra fugirem.
– Não me importo em fugir, apenas em cumprir a missão... A qualquer custo.


Os meses se passaram. De Maio a Junho de 2006 era tempo o suficiente para que conseguissem mapear toda a cidade e criar rotas de fugas que lhes permitissem fugir caso algo desse errado e para evitar atrasos se desse tudo certo. Fernando e Albano receberam informações o suficiente para saber que a explosão nessa área afetaria as duas usinas e que fatalmente todos numa área de pelo menos quinze quilômetros morreriam sem saber o que os atingira. Os demais, em um raio de pelo menos 100km, morreriam em conseqüência da nuvem de radiação.

Durante esse período os contatos entre Fernando e a Sombra cessaram. Jonas tentava todas as noites viajar até o desfiladeiro vermelho, mas não encontrava nem a Sombra quanto nenhum dos demais. Até mesmo as tropas de Dragon estavam ausentes. Em contrapartida, Albano todos os dias ligava para Regina e prestava relatórios sobre seus avanços na cultura local. Em diversas noites Fernando jurou ter escutado gemidos femininos e ter reconhecido a voz de Regina no quarto de Albano, mas desejando evitar problemas Fernando nem comentou a respeito.
E o tempo passou...


Dia 31 de Dezembro de 2006. Ao amanhecer o telefone de Albano tocou. Era Regina avisando que “os fogos chegariam a Angra por volta das duas horas da tarde”. O assassino avisou a Fernando do fato e precisamente às duas horas da tarde, um carro preto da organização chegou à pousada. De dentro dele saíram dois agentes carregando uma enorme mala de metal que deixaram aos cuidados de Fernando. O rapaz levou a mala, muito pesada, até o quarto de Albano e a abriram. Dentro dela tinham duas caixas cinzentas com um display negro apagado e um Pocket PC desligado. Sem entender o funcionamento do equipamento, Albano telefonou para Regina novamente, querendo entender o que faria.
– Estamos com os fogos... Mas como funcionam? – Perguntou Albano, direto e sem rodeios.
– Existe em cada dispositivo um botão azul. Esse botão ativa o contador de tempo dos explosivos e os deixarão em modo de espera aguardando uma confirmação à distância. Para essa confirmação, junto com os explosivos virá um PDA com dispositivo com comunicadores sem fim em diversas bandas, desde a Infra Vermelha a Wireless. O PDA é que vai fazer a sincronização entre os dois, ou seja, vocês ativam os dois explosivos, e o timer vai se iniciar, em seguida deve ativar a sincronização pelo PDA que vai fazer com que o contador de ambos se iguale tomando como base o dispositivo ativado primeiro. – Explicou Regina.
– E o que acontece se não ativarmos o PDA?
– O dispositivo ativado primeiro, explode primeiro... Simples assim. O contador funciona de modo independente, vocês apenas sincronizam a explosão com o PDA.
– Entendi, e qual o raio de explosão dessas coisas?
– De três quilômetros separadas, e de pelo menos 8km juntas... Sim, elas afetarão Angra II, se é essa sua dúvida... – concluiu Regina, desligando o telefone.
– Ordens são ordens. – Afirmou Albano, guardando o celular diante do olhar preocupado de Fernando. – E como soldados, as obedeceremos a qualquer custo. Qualquer custo.
– O que ela disse? – Perguntou Fernando?
– Desejou sorte, apenas. – Responde Albano, com sua franqueza tradicional.

Fernando aceitou a falta de informações de Albano e continuou estudando os explosivos. A única coisa que Albano explicou a Fernando foi que o botão azul servia para iniciar o timer das bombas, do resto nada disse. “Não vale a pena dizer a ele, isso não é algo que lhe cabe...”, pensou Albano ao terminar de mostrar o que fazer. Com esses últimos detalhes, apenas faltava agora executar o plano. Curtiriam um almoço como se fosse a última refeição e depois dariam conta dos últimos detalhes antes de iniciarem efetivamente essa missão.


Os planos de invasão da Usina de Angra I eram bons o suficiente e dentro do esperado pelo que a Organização sempre fornecia. A única exigência era que os explosivos deveriam ser colocados nos pontos desejados até as onze e quarenta da noite, no máximo. Qualquer atraso significaria fracasso total e os dois agentes pagariam pela falha. Albano e Fernando passaram o restante do dia verificando o equipamento. Para sorte de ambos era um dia frio e movimentado. Era bom estar frio porque tornaria mais suportável utilizarem os sobretudos da Organização, e a movimentação era boa porque ninguém repararia em dois indivíduos de sobretudo passeando pela cidade em plena festa de ano novo.

Para evitar problemas com engarrafamentos, ambos optaram por utilizarem motos, que rapidamente foram cedidas por uma das concessionárias locais após duas ligações para a Organização. Eram duas belíssimas motos da Harley-Davidson de 1948, idênticas, que haviam pertencido antes a Marinha do Brasil e foram vendidas como sucata a uma das concessionárias. Fernando sentia-se um deus sobre a moto, e até mesmo o sempre sisudo Albano parecia maravilhado pela oportunidade de pilotar tal raridade.
– Penso seriamente em ficar com ela depois da missão. – Comentou Fernando.
– Que bom. – Respondeu Albano, sem dar muita importância a empolgação do jovem rapaz.



Se olhos humanos pudessem ver seriam tomados por um completo horror. Além das nuvens, onde o céu é mais azul uma enorme massa negra sobrevoava a cidade de Angra dos Reis. Uma horda absurda de feras das sombras urrava ansiosa pelo primeiro badalar dando a elas total liberdade. A liberdade de se alimentarem de todas as pobres almas da face da Terra. Dentre elas uma se destacava. Sua forma era bestial, assemelhava-se com um imenso cachorro de olhos vermelhos e chifres enormes semelhantes ao de um bode. Sua boca tinha enormes presas de trinta centímetros de comprimento em média. Ele era inteligente como um predador observando sua caça e desejava muito saborear o espírito humano.
– Mestre... Mestre... Quando poderemos descer? – Perguntava um demônio de asas pequenas e corpo ainda menor, mas com olhos famintos.
– Em breve... Apenas devemos aguardar que as carniças cumpram sua missão, e então... Poderemos nos alimentar. – Respondeu o enorme ser, sem sequer dirigir o olhar à criatura inferior.

Não muito longe dali, em um pequeno hospital psiquiátrico do governo, a maioria dos pacientes berrava incessantemente. Dentre eles destacava-se um senhor de aproximadamente oitenta anos, chamado entre os seus de “Profeta”. Ele debatia-se violentamente contra as janelas de seu quarto, tentando fugir de algo que os médicos julgavam ser a loucura causada pelos fogos de fim de ano. Se os médicos pudessem ver o que o “Profeta” via, com certeza se juntariam a ele como os demais “loucos” fizeram.
– Eles estão a espreita! O capeta quer nossas cabeças! – Berrava o “profeta”. – Jesus! Tende dó de nós! Jesus!



Finalmente Albano e Fernando chegaram a porta das instalações da Usina Nuclear de Angra I. Devido aos problemas típicos de ano novo, os infernais engarrafamentos que ocorriam sempre e os muitos quebra-molas pelo caminho, mesmo indo de moto apenas chegaram no local por volta de oito horas da noite. Albano sacou de seu bolso dois relógios de pulso e os sincronizou, entregando-os a Fernando. Fernando pegou o relógio, o colocou no pulso e notou que não havia sincronização de horários, mas apenas um timer digital marcando o tempo que ainda tinham para ativar os explosivos. 

Os dois tinham todo o mapeamento da área na cabeça. Diversas vezes se passaram por estudantes para conhecer pelo menos os corredores da administração do prédio principal. Nada poderia dar errado, estava tudo contabilizado. Fernando seria responsável por colocar os explosivos no sistema de refrigeração do Reator, que ficava em um prédio anexo ao principal, e Albano invadiria o prédio principal e tentaria chegar até o reator para instalar o último explosivo. Se por acaso desativassem o explosivo principal, o acidente nuclear ocorreria por falta de resfriamento e se o inverso ocorresse, não precisariam interromper nenhum resfriamento, pois a explosão resolveria tudo. Se ambos explodissem, a missão estava perfeita e nenhum ajuste seria necessário, mas prudência nunca era demais. Albano até lamentava não ter mais explosivos.

Como o serviço de Fernando era dos mais simples, estava tudo calculado que quando faltassem duas horas para a ativação total do sistema, ou seja, apertar o último botão, Fernando estaria encontrando Albano no prédio da administração, exatamente na porta de acesso para a área de acesso restrito. Até aquele momento provavelmente Albano já teria feito a maior parte do serviço sujo e matado a maior parte das pessoas do prédio.
– É agora? – Perguntou Fernando, observando pela última vez as motos e toda a cidade de Angra dos Reis. – Se conseguirmos esse lugar nunca mais será o mesmo.
– Então devia ter tirado uma foto... Essa é a última vez que vemos a civilização. – Respondeu Albano, enquanto subia em uma árvore para cortar os fios de telefone da Usina.
– Por quê? – Perguntou Fernando, sentindo-se intrigado.
– Se destruirmos isso aqui, destruímos a civilização, pelo menos a Brasileira... E sendo a Organização do jeito que nós sabemos, acredito que não seja um objetivo apenas e meramente “terrorista”...
– Como assim?
– Pense, você é capaz de chegar a uma conclusão...

Fernando pensou, calado, alguns minutos. Minutos que Albano utilizou cortando todos os fios de telefonia que podia ver. Não interessava se cortasse o fio certo ou errado, mas sim que cortasse todos. Era fim de ano, e mesmo que a operadora local de telefonia fosse chamada para consertar algo, só atenderia no ano seguinte. Com os cabos cortados e a certeza eu tecnologia celular não funcionava naquela área por causa de espionagem industrial (Albano havia testado todas as operadoras de telefonia móvel antes, pra confirmar), o isolamento de Angra I era completo. Agora apenas faltava-lhe iniciar a invasão.

Albano procurou nos muros cercados de arame farpado uma parte que estivesse mais danificada pela maresia e nem demorou muito a encontrar. Nessas horas era ótimo poder contar com a incapacidade do Governo Brasileiro na gestão de segurança. Havia literalmente um buraco no muro, provavelmente feito para invadirem os bosques dentro dos limites das instalações. Era o tipo de sorte que lhes fariam ganhar pelo menos alguns minutos preciosos para cumprir a missão. Quando Albano começou a invadir o terreno, Fernando finalmente voltou a falar:
– Se for o que estou pensando... Será terrível!

Albano apenas consentiu com a cabeça e sorriu.