Quinta Fase da Missão
Chumbo Grosso
Amanda estava completamente relaxada dentro do carro. Sentia-se plena, apesar de ter perdido a família dias atrás. Na verdade esse pedaço de carne loiro havia perdido. Seu atual dono, um ser pertencente a segunda fileira das hordas de Lúcifer, e de nome Ab’Sylth, não se importava com tais coisas mundanas. Tanto é que no momento saboreava com total prazer um charuto cubano que comprara antes de sair do hospital. “Foda-se a carne...”, respondeu a um dos agentes, preocupado com a integridade da carcaça. De repente, quando estavam passando pelo viaduto da Linha amarela sobre a Avenida Brasil, ela escutou uma freada brusca e o eco de um disparo.
Sua mente gelou por um instante, por traumas ainda frescos na mente do hospedeiro, e em seguida o agente que dirigia atendeu o celular e apenas concordou com uma voz que berrava do outro lado, mas Amanda nada conseguia entender. Imediatamente a velocidade da Mercedes diminuiu e o veículo foi ultrapassado de modo absurdo pelo Chevette pilotado por Albano. Os agentes então ordenaram a Amanda que prendesse o cinto de segurança e que se preparasse para um grande baque.Amanda obedeceu, preocupada, e em segundos deu o aviso que estava pronta.
“Lá vamos nós!”, berrou o agente, dando um cavalo de pau enquanto o agente no banco do carona jogava contra a mureta de proteção um pequeno artefato que ao tocar o objetivo explodiu destruindo a mureta. Amanda berrou de susto e levantou-se pra ver o que ocorria e viu o carro acelerando em direção ao rombo aberto na mureta. “Vamos morrer”, gritou Amanda enquanto o carro voava pra fora do viaduto em direção a avenida. A queda durou poucos segundos, o que para a mulher ocupante do carro pareceram dias de tortura.
E então tudo terminou com um baque seco e muita vibração do carro atingindo o chão e levantando muita poeira. Ele ainda seguiu rasgando o asfalto com o forro da traseira do veículo por pelo menos dez metros. Por isso, antes de recuperar o controle da direção, o motorista ainda amargou mais alguns segundos até que o sistema de suspensão do veículo voltasse a funcionar pelo menos para tirá-los dali. Quando tudo terminou, guiados muito mais pela sorte do que pela habilidade, o mercedes deixou de ser um touro indomável e eles seguiram viagem para o Aeroporto Internacional, deixando para trás Albano e Fernando.
Finalmente o motorista entendera porque o veículo fora adaptado para tração traseira e não dianteira. Se fosse tração dianteira teriam todos mergulhado para a morte, mas sendo traseira o próprio peso do veículo manteve o carro relativamente equilibrado durante a queda evitando que o mesmo desabasse de bico e todos morressem. Um pouco de fator “Hollywood” contou naquele momento, pois a única vez que o motorista vira algo assim ser feito foi em filmes da década de 80, no século passado. Era estranho fazer parte de um filme real naquele momento. Obviamente Amanda assombrou-se quando o motorista gargalhou depois que acalmou, ela não tinha idéia dos pensamentos dele.
Fernando estava puto e assustado.
– Que merda é essa? – Bradou Fernando ainda sem entender o que acontecia e porque Albano voltava depois de dar um tiro.
– Eu vi um olheiro em cima da passarela e matei ele... – Respondeu Albano.
– Como? Você tem olho de águia por acaso?
– Veja por si só.
O chevette estacionou diante de um corpo espatifado logo abaixo de uma passarela perto da saída da Linha Amarela para Bonsucesso. Era um rapaz mestiço de idade aparentando uns dezessete anos e vestia roupas de grife, que em virtude do sangue valiam menos que colchão de mendigo no momento. O rapaz tinha perto da mão um rádio Nextel que ainda funcionava. Albano se aproximou do corpo e pegou o rádio ainda a tempo de escutar quando Carne Moída chamava pelo comparsa. Fernando, finalmente se deu conta do problema e sentiu um frio na barriga. Albano finalmente sorria, ia enfrentar alvos que reagiam, esperava apenas que o novato não desse algum mole na execução. De repente eles escutam o eco de uma explosão.
– É o sinal... Agora se segura que nós vamos correr muito... – Disse Albano, sacando suas pistolas. – Pega suas armas e vamos embora.
Fernando não teve tempo nem de colocar o cinto, quanto mais as mãos nos bolsos. Albano ativou de imediato o sistema nitro do chevette e o carro acelerou tão rápido que Fernando teve a impressão de que seria esmagado contra o banco do carona. Tirolez naquele momento sorria, e muito. A adrenalina tomava conta de cada parte de seu ser, e esperava que fossem muitos, e todos corajosos ou burros o suficiente para não fugirem. Em menos de cinco minutos a uma velocidade absurda começaram a ver as kombis os aguardando para o pretenso assalto. “Como a sensação é boa...”, deliciava-se Tirolez com tudo aquilo.
Ancelmo aguardava novas instruções de Mozart quando escutou a explosão. Assim como todos os comparsas, rapidamente sacaram suas armas e ficaram de olho nos rádios. “As ordens sempre foram pra esperar o aviso de Mozart... A não ser que desse tudo errado.”, e no momento não era esse o caso. Nem Mozart nem seu primo que estava servindo de olheiro haviam se comunicado. Todos começaram a relaxar novamente quando um chevette preto foi avistado chegando em altíssima velocidade. A hora da felicidade havia chegado.
– Caralho! É bebum! Não vai frear! – Berrou Ancelmo.
Todos correram pra se proteger, mas Ancelmo estava imóvel. Por mais que quisesse não conseguia se mexer. Ele tentou fechar os olhos mas não conseguiu fazê-lo antes de ver o chevette se chocar violentamente contra uma das kombis e de dentro dele voar um homem enorme de sobretudo que estraçalhou o pára-brisa do chevette e rolou pelo chão até parar imóvel uns dez metros completamente ensangüentado. Ancelmo e os demais deram o homem por morto, ainda mais depois de uma cena dessa, e caminharam sorridentes para o chevette, onde viram um rapaz negro se recuperando da porrada.
De repente, quando Fernando pensou que Albano frearia pra se digladiar com os bandidos, viu Albano fazer o contrário. O assassinou acelerou o chevette o mais que podia e antes que Fernando pudesse processar a informação o chevette deu uma porrada absurda contra uma das kombis. A força da pancada foi tão violenta que Albano atravessou o pára-brisa do automóvel e caiu a dez metros do acidente, aparentemente morto. Fernando nem conseguira recuperar a consciência quando um dos meliantes bateu no que restava do vidro do carona.
– Quer ajudar, irmão? – Falou o meliante, com sarcasmo. – Foi uma puta porrada... E quem vai pagar meu prejú?
– Heim... Prejú?
– É, meu irmão! – Falou o homem, puxando Fernando pela camisa e o tirando do chevette até ficarem cara a cara. – Dinheiro! Tá ligado?
– Ligadíssimo!
Fernando não pensou duas vezes e deu dois tiros com sua pistola na barriga do idiota, que caiu no chão berrando pros comparsas. Os demais rapidamente sacaram suas armas e começaram a atirar. Demonstrando alguma habilidade que nem mesmo sabia possuir, Fernando saltou para a traseira do carro e se aproveitou da carroceria reforça pra se proteger da primeira rajada. “Merda, porque você foi morrer agora Albano...”, pensou Fernando, sentado no asfalto e verificando se tinha como abrir o porta-malas. E tinha, com a batida a trava abrira e pra melhorar, até mesmo o porta-trecos do carro estava aberto e tinham diversas granadas espalhadas pelo compartimento. Fernando escolheu uma qualquer e a arremessou, rezando para não acontecer nada de errado.
Assim que a granada tocou o chão começou a soltar muita, mas muita fumaça. Fernando julgou ser uma granada de gás lacrimogêneo, mas notando que nenhum bandido gritara de dor concluiu que se tratava de apenas uma granada de fumaça, provavelmente do mesmo tipo que Albano usara quando atacara o Mac Donald’s, dias antes. Aproveitando o momento, que não duraria mais que cinco minutos ou até o primeiro deles se aproximar, Fernando pegou outras duas granadas e se esgueirou pra dentro da fumaça.
Ancelmo levou um susto quando escutou os tiros e seu comparsa Felipe caiu no chão gritando de dor depois de arrancar o jovem negro de dentro do chevette. Imediatamente sacou seu fuzil e disparou furioso contra o rapaz que se refugiou atrás da lataria do carro. “Babaca, só em filme carro serve de barricada!”, pensou enquanto continuava disparando até que sentiu uma dor perto da orelha. Tocou discretamente e viu em sua mão um filete pequeno de sangue e escutou um som estranho, de balas ricocheteando. “Sujou! O carro é blindado e agüenta até bala de fuzil!”, avisou Ancelmo, mas não alto o suficiente para que o rapaz ouvisse.
Imediatamente todos pararam de atirar e começaram a cercar o carro com todo cuidado, mas de repente o porta malas de abre e eles vêem uma mão negra arremessar um objeto na direção deles. Antes do objeto tocar o chão todos já tinham identificado a granada e começaram a se afastar quando ela começou a solta fumaça. Sem demonstrar ser uma granada tóxica, apenas uma bomba de fumaça, os bandidos um a um se embrenham na fumaça para buscar sua vítima antes que fuja oculto pelo seu artifício. Exceto Ancelmo, que fica mais afastado e pega seu Nextel, precisava entrar em contato com seu primo pra saber se tinha algum “meganha” vindo por causa dos tiros.
Estranhamente Ancelmo escuta o som do rádio de seu primo tocar próximo dele, e sente de leve a vibração do aparelho. “Como assim?”, indaga Ancelmo enquanto faz uma nova chamada e encontra a origem do som próxima do enorme cadáver que voou do chevette segundos atrás. Chama o rádio mais uma vez, e escuta o som vindo exatamente de um dos bolsos do sobretudo do enorme homem. Desconfiado do pior, ele chuta o homem violentamente, que rola pelo asfalto espalhando sangue pela pista e cai de braços abertos no chão. “Filha da puta... Se matou meu primo...”, balbucia enquanto prepara seu fuzil para destruir aquele desgraçado.
Passo a passo, e se arma em punho, Ancelmo aproxima-se do cadáver e deseja dar uma última olhadela no maldito antes de destruir seu rosto a bala. O homem aparentemente já está morto, e Ancelmo chuta o coturno do cadáver e analisa suas roupas. “Ao menos vou ganhar uns trocados com suas roupas.”, diz Ancelmo observando a qualidade das calças do homem e todo mais. Enfim se dá conta de que tem alguma coisa errada com esse homem, mas é tarde demais. Num movimento súbito o homem saca uma submetralhadora P90 e dá uma rajada certeira na cabeça de Ancelmo, que morre sem entender nada do que acontecera.
– Matei seu primo sim, encontre-o no inferno! – Diz Tirolez, enquanto o corpo de Ancelmo voa até o chão por causa da pressão de ar dos tiros à queima roupa.
Fernando está desesperado. Quando está quase saindo da fumaça vê o vulto de um dos bandidos próximo dele e volta para onde estava. Vendo que a granada que levou consigo também é de fumaça, arrebenta o pino e aumenta mais ainda a nuvem de fumaça.
– O que foi, tem medo agora? – Berra um dos bandidos, dando uma rajada de metralhadora pro alto.
– É! O crioulo foi macho de fuzilar o Felipe a queima roupa, quero ver se é homem de encarar a gente...- Berra um segundo bandido, sem dar tiro.
– Vamos te dar uma chance, se entrega e a gente estoura seus miolos, senão vamos te entregar pro Carne Moída! – Berra o primeiro bandido, dando outro disparo.
O jovem agente escuta então mais duas rajadas de metralhadora, quase seguidas, mas produzindo um som diferente das que escutara, completamente familiar. Era um estrondo idêntico ao da submetralhadora de Albano. Depois do que escutara no Mac Donald’s há menos de uma semana era impossível confundir com outra parecida. “Mas Albano está morto! Não é ele... De quem será essa arma? Será deles?”, indaga Fernando, enquanto os bandidos continuam suas ameaças.
– To falando preto safado... Se entrega logo, porque quando a fumaça baixar vamos estourar suas pernas e deixar o resto pro nosso chefe... – Berra o primeiro bandido.
– Faz o que ele ta falando! – Berra um terceiro bandido, com certo pavor na voz. – Nosso chefe é o cão na terra...
Tirolez está satisfeito em como a farsa funcionou. Se os idiotas tivessem se dado o trabalho de conferir direito, teria morrido com certeza. Mas esse tipo de gente não é que nem Tirolez. Vê logo que não são soldados, não soldados como Tirolez. A primeira coisa que faz, ainda antes de se levantar, é terminar o serviço de Fernando, acertando um tiro certeiro na cabeça do bandido chamado Felipe, que ainda estava em condições de avisar aos comparsas do novo perigo. Para sorte de Fernando, esse bandido morre sem fazer um barulho sequer. E os demais bandidos estão escondidos dentro da fumaça procurando seu parceiro, satisfeitos demais em gritar e dar tiros aleatórios para perceberem o som da arma de Tirolez. “Vão morrer fácil demais...”, lamenta Tirolez desejando mais adrenalina e sangue nessa noite.
Com total frieza se levanta e limpa seu sobretudo da poeira que grudou nele. Olha para os lados e confirma que ainda falta alguém naquele lugar, provavelmente o chefe. Pelos cálculos de Albano e por comparar o número do Nextel de Ancelmo com o que pegara antes, ainda faltava um bandido pelo menos. Esperava que fosse mais. Sem se importar se Fernando está ou não vivo, pega um cigarro amassado em seu sobretudo, verifica suas armas, e dá uma longa tragada pra em seguida se livrar do cigarro. Com o semblante inalterado, apesar da empolgação, começa a caminhar pra dentro da fumaça enquanto se prepara pra mais um massacre.
“Abun D’bashmaya.”, balbucia Tirolez enquanto avista o primeiro bandido e lhe dá uma coronhada violenta na cabeça, mas antes do bandido tombar no chão inconsciente saca sua faca e a encrava no olho do meliante e a arranca com força fazendo um arco no ar abrindo a cabeça como se fosse um coco espalhando sangue pra todos os lados. “Nitkadash Shmakh.”, profere com o mesmo tom de voz calmo e alterado, quando avista a alguns metros de distância outro dos bandidos. Dada a distância aponta sua pistola e dá um tiro certeiro no meio dos olhos do meliante, que desaba no chão sem sequer perceber do que morrera.
“Tete Malkutakh.”, continua Tirolez quando dá mais um tiro em cada joelho de dois bandidos, que caem no chão gritando. Obviamente os demais correm pra fora da fumaça assustados com tudo aquilo. Mas nada vem e apenas escutam mais duas rajadas vindas de dentro da fumaça. Os bandidos haviam sido decapitados pela faca de caça de Tirolez. O assassino com sua calma tradicional vê Fernando ajoelhado no chão, travado de medo e passa por tranqüilamente indo em direção do porta-malas de seu carro. “Nihue Tzibyanakh”, fala enquanto de dentro do carro retira quatro granadas de fragmentação e quatro e fumaça e volta até Fernando. Sem se preocupar com o estado de seu parceiro, o arrasta até atrás de seu carro e o abandona ali novamente.
“Aykana D’bashmaya Aph B’ar’a.”, diz enquanto arremessa todas as granadas de fumaça na direção dos bandidos, de forma que não consigam escapar do desconhecido. “Hab’lan Lakhma D’sunkanan Yaumana.”, fala Tirolez enquanto se agacha atrás de seu carro e uma a uma arremessa as granadas de fragmentação e sorri com os gritos de dor dos bandidos ao serem surpreendidos pela dor lacerante dos fragmentos rompendo pele, músculos e até mesmo ossos. Um dele, provavelmente o mais sortudo, é atingido na cabeça por uma das granadas e morre sem sentir qualquer dor.
Com as explosões a fumaça se dispersa e Tirolez se levanta para conferir o resultado de seus ataques. Sucesso total, dos pelo menos onze bandidos que estavam na fumaça, apenas quatro davam alguns sinais de vida. Os seguintes ou tinham morrido realmente ou estavam inconsciente. E Tirolez não estava contando com os bandidos que matara ao se levantar. Satisfeito, novamente sorriu e caminhou em direção dos sobreviventes.
“Uashbuk’lan Khau’bayn.”, balbuciou enquanto matava o mais próximo com um tiro certeiro na nuca. O cadáver ainda assim demonstrava espasmos involuntários de algum resquício de vida e pra garantir que não faria mais nada deu mais cinco tiros na cabeça do bandido, que virou um horroroso amontoado de carne. “Aykana D’aph Kh’nan Shbakin L’khayabayn”, falou quando enfiou sua faca na barriga de um dos bandidos e arrancou-lhe as tripas para em seguida decapitá-lo como fizera com outros. “Ula Ta'lan L’nis’yuna.”, disse Tirolez enquanto descarregava o restante das balas de sua submetralhadora em um dos bandidos. “Ila Patzan Min Bisha.”, proferiu quando matou o último bandido a coronhadas de sua pistola, pois estava sem balas. Pra certificar-se de que matara a todos, foi até os aparentemente mortos e degolou-os um a um. “Amen”, falou enquanto limpava as mãos do sangue.
Em seguida foi até seu carro e tirou de um galão de gasolina e começou a jogar gasolina nos corpos. Planejava fazer um imenso churrasco com tudo aquilo, e lamentava não ter consigo nenhum naco de carne pra assar e comer enquanto assistiria a tudo. De repente escutou um disparo e sua perna fraquejou. “Fui atingido...”, pensou enquanto se virava e via um rapaz de aproximadamente vinte e poucos anos se aproximar portando uma pistola 9mm acompanhado de dois enormes seguranças também armados, só que de fuzil, mas que pareciam estar cansados demais pra ser algum perigo no momento. “Estou com problemas...”, pensou Albano.
Carne Moída escutou diversas explosões. Em quantidade suficiente para se precaver e saltar do seu carro junto com seus comparsas poucos metros antes de avistar o ponto onde as kombis estavam. “Tem alguma coisa errada...”, pensou enquanto saltava a mureta da Linha Amarela e iria seguir pela via expressa por fora, sem que fosse visto por quem estivesse dentro. Pra poder correr melhor abandonou seu fuzil no mato e correu rapidamente obrigando os demais a sofrer muito pra acompanhá-lo. Assim que chegou viu uma figura enorme de sobretudo caminhando entre os destroços das duas kombis e sentiu um cheiro forte de fumaça. O homem estava dando uma facada no pescoço de Felipe e começava a caminhar em direção do tal chevette preto.
O ódio tomava conta do peito de Mozart. Muitos desses cadáveres eram realmente seus amigos, provavelmente mais amigos dele até do que ele imaginava. E morreram por ele, por ordens dele e ele não tivera tempo de ajudá-los a trucidar esse playboy de sobretudo. “Foda-se se ele parece ser sinistro”, pensava Carne Moída enquanto conferia sua pistola 9mm. “Vai morrer hoje e vou dar ele de alimento pros mendigos!”, pensou quando viu o homem retornar aos cadáveres com um galão de gasolina e começou a espalhá-la pelo asfalto. Era audácia demais para agüentar. Carne Moída mirou, aguardou o momento certo e atirou. Ele acertou o playboy bem na perna, perto do joelho.
Ansioso por dar cabo dele correu até pra evitar que o homem reagisse. O desgraçado se virou diretamente pra Carne Moída e por um instante seus olhares se cruzaram, Pela primeira vez na vida Carne Moída sentia medo, o olhar do homem era pior que o seu. Mas isso não faria diferença, arrancaria os olhos do homem primeiro. Agora esse maldito estava nas mãos de Carne Moída e ele o queria vivo. Assim que seus servos chegaram ofegantes os ordenou que segurassem o homem antes que fizesse qualquer coisa. Os dois obedeceram de imediato e agarraram Albano pelos braços. Albano era muito mais alto que Mozart. E Mozart não gostava de pessoas mais altas que ele sempre mandava serrar as pernas de quem “tirava onda“ com ele a esse respeito, mas nesse caso faria por prazer mesmo.
– E aí, babaca... Qual seu nome? – Perguntou Carne Moída.
– ...
– Não sabe falar? – Berrou Carne Moída, dando uma coronhada no saco de Albano, que se encolheu todo, mas sequer gritou. – Olha pessoal, o cara é resistente... Será que ele topa tiro no saco?
– Meu nome é Albano... – Respondeu Albano, sorrindo.
– Cala a boca! – Berrou Carne Moída, dando um tapa na cara de Albano, que mesmo assim continuava a sorrir.
– Porque está sorrindo cuzão? Quer um tiro na boca pra arrancar esses dentes?
– Porque você vai morrer...
De repente Carne Moída escutou dois estampidos pequenos, e seus dois seguranças caíram no chão, cada um com um tiro na cabeça, liberando Albano, que simplesmente caiu no chão e chutou longe a arma de Carne Moída, enquanto esse girava para ver o autor dos disparos. Não percebeu a arma voar de sua mão e mesmo assim não teve mais tempo. Tudo ficou escuro por alguns segundos. E então Mozart viu surgir diante de si uma enorme luz que crescia e crescia... Escutou o som de farfalhar de asas diante de si e uma mão tentou tocá-lo, mas antes que isso acontecesse uma espécie de sombra cobriu seus olhos e ele se viu em um enorme desfiladeiro vermelho. Então uma voz nada benigna ecoou por todo o lugar:
– Bem vindo ao Inferno... MEU inferno.... Jonas está vindo terminar o serviço... – Disse a Sombra, gargalhando muito em seguida.